São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 1996 |
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Machado faz narrativa em ziguezague
FRANCISCO ACHCAR
É tido como nosso primeiro romance realista, mas ele é mais que isso: é a primeira narrativa fantástica do Brasil e a primeira obra da literatura brasileira que ultrapassa os limites nacionais, pois é um grande romance universal. Brás Cubas, o narrador, está morto, e é dessa perspectiva extraordinária (daí o caráter fantástico do livro) que ele nos relata sua vida e nos dá um quadro de sua classe social e do mundo em que viveu, tudo num estilo ziguezagueante, com o à vontade de um morto caprichoso e debochado, sem qualquer compromisso com os formalismos da vida -seja os formalismos das relações sociais, seja os da narrativa literária. O livro é imensamente divertido e pode-se lê-lo, com prazer, de diversas formas e com diversos interesses: seja pelo gosto da história, contada com comicidade e irreverência; seja pela forma da narrativa, cheia de surpresas e desenvolvida (ou desmontada) por meio de um vaivém constante (começa pela morte do protagonista, pula para o seu nascimento e prossegue com muitos saltos); seja ainda pela representação corrosivamente irônica de um mundo social parasitário (a "alta sociedade" do Segundo Império), mundo do qual o narrador -um completo parasita- é o perfeito representante. Por trás de tanto bom humor, contudo, está uma perspectiva desencantada (o famoso pessimismo machadiano) que, pondo a nu as estruturas daquela sociedade, deixa visível o esqueleto que suporta as forma das vida e da arte. Texto Anterior: "Cante" durante a prova, mas não dance Próximo Texto: Escola deve fazer devolução Índice |
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