São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Inglaterra brilha com 'Segredos e Mentiras'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Um ano em que o melhor filme é inglês tem alguma coisa de errado. E se "Segredos e Mentiras", de Mike Leigh, não for o melhor, é com certeza um momento de brilho e rigor num ano chocho.
A coisa não fica por aí. A polêmica veio de "Trainspotting - Sem Limites", de Danny Boyle, também britânico. Mesmo o olhar de esquerda mais eloquente de 96 veio da Inglaterra, com "Terra e Liberdade", de Ken Loach.
É difícil dizer se essa amostragem representa o ano cinematográfico na Europa. A distribuição de filmes americanos no Brasil é coerente. A dos europeus parece mais uma série de tiros a esmo. "Forever Mozart", de Godard, e "Conto de Verão, de Eric Rohmer -para ficar nos exemplos ilustres- nem foram distribuídos por aqui.
Em troca, ganhamos uma surpresa portuguesa: "A Comédia de Deus", de João César Monteiro, é uma tortuosa viagem aos desejos de um homem, com resultado tão cômico quanto incômodo.
Outras surpresas, em tom menor: o belo "Entre o Inferno e o Profundo Mar Azul", filme belga de Marion Hãnzel, a comédia francesa "O Gato Sumiu", de Cedric Klapish, o documentário "Leni Riefenstahl", de Ray Müller.
A ressurreição do ano não foi de Antonioni, o eterno, que reapareceu com "Além das Nuvens". Foi de Pedro Almodóvar. "A Flor do Meu Segredo" assumiu o melô com franqueza e resgatou um diretor que parecia se esgotar.
O Oriente, de muitas esperanças recentes, sumiu do mapa, ou quase, mas o Japão deu sinal de vida com "Gonin - Cinco Homens", de Takashi Ishii.
A América Latina deu o ar de sua graça com "Guantanamera", comédia agônica em que Tomás Gutiérrez Alea destilou ira contra as decepções do socialismo cubano.
Não é um balanço de entusiasmar. Barômetro da cinematografia mundial, a Mostra Internacional de Cinema parece ter acusado o golpe. Sua grande revelação foi mesmo Eizo Sugawa, um cineasta com mais de 60 anos.
A Mostra trouxe seus dois trabalhos mais recentes: "O Rio dos Vagalumes" (1987) e "Raros Sonhos Flutuantes" (1990). Sobretudo o último é um desses filmes que ficam na memória para sempre. Isso às vezes vale por um ano.
(IA)

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