São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Pesquisadores localizam genes que podem causar esquizofrenia

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1911, Eugen Bleuler, de Zurique, propôs o termo esquizofrenia (cisão mental) para designar um grupo de perturbações nervosas ideoafetivas, algumas conhecidas havia muito tempo e encaradas diversamente pelos especialistas, uns considerando-as doenças isoladas, e outros, conjunto de males.
Por definição da Sociedade Americana de Psiquiatria, a esquizofrenia constitui grave distúrbio emocional de nível psicótico profundo, caracterizado por fuga à realidade acompanhada de delírios, alucinações, desarmonia e conduta regressiva.
O pensamento esquizofrênico, segundo Isaac Mielnik em seu "Dicionário de Termos Psiquiátricos", é autista, paralógico, paleológico ou mágico, com fraca associação que provoca fragmentação de pensamento e linguagem, condensação de conceitos com frequente produção de neologismos, concretismo ou literalidade com difícil correspondente de abstração e ideação pobre com frequente repetição de conceitos estereotipados de pensamentos e ações.
Há vários tipos esquizofrênicos, como o simples, o hebefrênico, o catatônico, o paranóide, o indiferenciado, o esquizoafetivo, o esquizofrênico infantil e outros.
Esses diversos tipos manifestam-se por sintomas e comportamentos diferentes, cuja principal característica, segundo Mielnik, é a dissociação ideoafetiva, que dá ao paciente aparência e conduta diferentes, estranhos ou excêntricos, bizarros e peculiares. O comportamento costuma ser socialmente inadequado.
Nos tempos atuais tem havido grande esforço de geneticistas no sentido de descobrir marcadores que indiquem pelo menos um gene da esquizofrenia.
Na revista "Science" (270, 919), Constance Holden publicou pequena, mas importante, notícia sobre esses esforços e alguns resultados já obtidos.
Marcadores são segmentos de DNA (matéria-prima do gene) que, por sua frequente proximidade, indicam a presença de um gene. Quatro grupos de pesquisadores encontraram marcadores que indicam a probabilidade de um gene no cromossomo 6, na esquizofrenia. Três dos grupos publicaram seus trabalhos na revista "Nature Genetics".
O trabalho inclui um segundo relatório da maior base de dados já organizada sobre a doença, com colaboração de Dermott Walsh e outros. A análise dos dados confirma resultados mais antigos de Scott Diehle e Kenneth Kendler.
Mas outros pesquisadores estão abrindo novos caminhos, como H. W. Moises, cujos estudos, salienta Holden, procuram marcadores na globalidade do genoma humano.
Eles revelaram duas localizações no cromossomo 6 e confirmaram encontros anteriores no cromossomo 22 e sugerem dois novos candidatos nos cromossomos 9 e 20. É campo, pelo que se vê, de ativa pesquisa.

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