São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para especialistas, mudanças serão inócuas

ANA MARIA MANDIM
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo não atingiu os objetivos a que se propunha com a reforma da Previdência, opinaram especialistas que participaram de debate anteontem na Folha, mediado pelo jornalista José Roberto de Toledo.
"O governo projetava um avião Concorde, mas o que levantará vôo de Brasília será um teco-teco", afirma o advogado trabalhista Wladimir Novaes Martinez.
Não haverá universalização da Previdência: serão mantidos os regimes especiais para servidores públicos civis, para os militares e para os congressistas, ao lado do regime geral do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
O advogado diz que a proposta do governo vai "engessar" o tema Previdência na Constituição.
O secretário de Previdência Social do Ministério da Previdência, Marcelo Estevão de Moraes, afirma que alguns passos foram dados. "Três ou quatro, embora o governo pretendesse avançar 50."
Segundo Moraes, essa é a reforma possível agora. "O governo mexeu com privilégios, incrustrados há séculos, de grupos com alto poder de vocalização", diz.
Houve unanimidade na avaliação dos efeitos econômico-financeiros da reforma sobre o sistema previdenciário. Todos disseram que esses efeitos serão nulos.
À exceção do professor de economia da Universidade de Brasília Dercio Garcia Munhoz, os outros especialistas concordam em que o sistema atualmente em vigor, mantido pela proposta do governo, não é financeiramente viável a médio e longo prazos.
O economista Francisco Eduardo de Oliveira, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que, se não houvesse mercado de trabalho informal, a Previdência já estaria quebrada.
"O sistema só sobrevive porque é pago pelo povão. As empresas repassam para os preços dos produtos de consumo popular o custo da contribuição sobre o faturamento e o lucro", diz Oliveira.

Texto Anterior: Senado aprova FEF no primeiro turno
Próximo Texto: 'Acordo ficou muito aquém do que deveria'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.