São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Juros provocam rombo recorde na União

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os pagamentos de juros da dívida interna em janeiro foram o principal motivo do rombo de R$ 2,8 bilhões registrado pelo Tesouro -um recorde histórico.
Estes pagamentos totalizaram R$ 1,31 bilhão: mais do que o dobro dos gastos em dezembro de 95, que foram de R$ 570 milhões.
Entre esses dois meses, o crescimento das despesas do governo com os juros pagos aos títulos públicos emitidos pelo governo federal foi de 131%.
Em comparação com janeiro/95 -quando estas despesas foram de R$ 411 milhões-, os pagamentos de juros da dívida interna cresceram 221% em janeiro de 96 -um desembolso adicional de R$ 908 milhões.
No mês passado, entraram no caixa do governo R$ 6,5 bilhões e saíram R$ 9,3 bilhões.
"O déficit deveu-se à concentração de fatores sazonais, que só ocorrem em janeiro. Por isso, a tendência é que (o déficit) não se repita nos meses seguintes", afirmou o secretário do Tesouro, Murilo Portugal.
Para ele, os gastos com pessoal (que cresceram em relação a janeiro de 95, mas decresceram em comparação a dezembro de 95) e a queda da arrecadação tiveram peso maior no resultado negativo do que o pagamento de juros.
Portugal reconheceu, porém, que o pagamento de juros da dívida interna pesou negativamente nas contas do governo. "Foi o item de despesa que teve o maior crescimento relativo", afirmou.
Ele atribuiu esse crescimento também a fatores sazonais. Segundo ele, houve em janeiro o vencimento de grande volume de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro).
Esse é um título com prazo de um ano. Seus juros se acumulam mês a mês e são pagos somente no resgate. O governo pagou em janeiro R$ 1,1 bilhão referente a esse título (do total de R$ 1,31 bilhão gasto com estas despesas). Com o pagamento, os títulos foram resgatados.
Folha de pagamento
Em janeiro houve acréscimo de 39% nos gastos com pessoal, se comparados com o mesmo mês do ano passado. O gastou adicional foi de R$ 1,21 bilhão.
Mas, se comparado com dezembro de 1995, o gasto com pessoal caiu 12%.
O secretário afirma, porém, que comparação com dezembro é imprópria. "Em dezembro pagamos a segunda parcela do 13º salário".
Segundo Portugal, em janeiro houve concentração de pedidos de férias. Assim, além dos salários, o governo federal teve que arcar com o adicional de um terço de férias e com a consequente antecipação do 13º salário de 1996 -prevista pela Constituição.
O secretário comparou o mês de janeiro de 1996 com o de fevereiro de 1995. "Naquele ano também tivemos um déficit (resultado negativo) de R$ 1,9 bilhão. Isso porque em 1995 os encargos de férias foram pagos, com atraso, em fevereiro -e não em janeiro."
Receita
A arrecadação de impostos teve queda de 6%, se comparada a janeiro do ano passado. Os impostos que mais caíram foram o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o Cofins.
Parte da queda de receitas foi compensada pelo aumento de 229% nas receitas provenientes de operações oficiais de crédito.
Esse dinheiro é o retorno de empréstimos feitos pelo governo à agricultura e exportações.
Assim, as receitas do governo (arrecadação, operações de crédito e juros) tiveram acréscimo de 3%, comparadas a janeiro de 95.
Portugal disse que o governo trabalha com a meta de déficit menor que no ano passado. Em 1995, o governo gastou R$ 4,08 bilhões a mais do que arrecadou.

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