São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Alimento sofisticado tem maior crescimento

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis produtos de consumo mais sofisticado ocupam o topo da lista do maior crescimento da produção industrial de alimentos no Brasil nos últimos 14 anos. O Plano Real, de 1994, acelerou ainda mais essa tendência.
O levantamento da produção industrializada de alimentos foi preparado pela Abia (Associação Brasileira de Indústrias da Alimentação), cobrindo ano a ano o período 1980-1994. A lista completa, de caráter reservado, inclui 46 itens, entre os de consumo mais comum.
O maior crescimento fica com o leite longa vida, que pulou de 101 milhões de litros (1980) para 720 milhões (1994). Um aumento de 613%. Chocolate em barra ou tablete (317%), iogurtes (176%), chocolate em pó (155%) e requeijão (140%) vêm em seguida.
Esses dados, compilados pela primeira vez por produtos e não por setores ou grupos, mostram que o crescimento da indústria de alimentos se deu no Brasil pela diversificação. Produtos tradicionais -como açúcar, café e carne bovina- mantêm uma produção mais ou menos estável.
"É importante perceber nessa tabela quais os produtos mais dinâmicos, que entram em substituição a outros cuja produção não cresce", diz Guilherme Dias, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura.
Dias alerta, no entanto, para problemas em alguns itens levantados pela Abia. A produção de carne bovina de 94 é estimada pela associação em 2,73 milhões de toneladas. Nesse caso, por exemplo, há um grande volume que passa pelo abate clandestino -segundo dados do setor de agropecuária, já foram superadas as 4 milhões de toneladas.
A tabela feita pela Abia mostra que o frango, vedete do Plano Real, estava com sua produção em crescimento contínuo pelo menos desde 89. Superou a produção de carne bovina já em 93.
Dias acredita que essa correlação é plausível, embora os dados da carne bovina estejam subestimados na tabela. No frango, segundo ele, também existe uma parte significativa de produção à margem dos controles oficiais.
Dênis Ribeiro, diretor do departamento econômico da Abia, diz que a base inicial da tabela foram os dados do censo do IBGE de 1980. Depois, foram acrescentadas informações de empresas e feitas algumas estimativas. "A tabela foi elaborada agora, são os dados mais atuais de que dispomos."
Os números de 95 ainda estão sendo compilados. "É um trabalho de formiga, recolhendo informações também de jornais e publicações sobre os setores", diz Ribeiro, lembrando que a Abia congrega 2,5 mil empresas entre as 40 mil que atuam na industrialização de alimentos no país.
Outro indicador da sofisticação da indústria alimentícia é a relação entre os tipos de açúcar: caiu a produção do refinado, para uso doméstico, e subiu a do açúcar cristal, de uso industrial. Isso acontece porque o consumidor opta por produtos pré-adoçados.
O comportamento do consumo para 95, indicado pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), é de aceleração inédita dessa tendência.
"Houve uma mudança muito grande no perfil do consumidor", diz Paulo Feijó, presidente da Abras. Na venda, o campeão de crescimento pós-Plano Real são as bebidas isotônicas, do tipo Gatorade, com um incremento de 346% em termos de volume.

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