São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Baldwin compromete nova versão de "Um Bonde Chamado Desejo"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Eu sempre dependi da delicadeza de estranhos". Com essa frase, difícil de esquecer, Blanche Dubois, a mais famosa personagem do dramaturgo Tennessee Williams, deixa-se carregar por um médico desconhecido para um manicômio no final da peça "Um Bonde Chamado Desejo".
Clássico de nascença, o texto, publicado em 1947, foi montado no mesmo ano por Elia Kazan, fundador do Actor's Studio de Nova York. Quatro anos depois, pelas mãos do próprio Kazan, tornava-se um dos maiores filmes do cinema norte-americano.
Inexplicavelmente traduzida no Brasil por "Uma Rua Chamada Pecado", a primeira versão cinematográfica da peça celebrizou a atriz Vivien Leigh (Oscar de melhor atriz em 1951) e projetou Marlon Brando como um dos grandes astros de Hollywood.
Quase meio século depois do sucesso da peça e do filme, chega às locadoras brasileiras uma nova versão do clássico, dirigida por Glen Jordan para a TV.
Talvez o único mérito dessa nova montagem seja a fidelidade ao texto. Os diálogos do original de Williams estão reproduzidos integralmente, o que já é suficiente para recomendar o filme.
Ambientada num subúrbio, a peça põe em cena um drama familiar prosaico. A força do texto está no fato de extrair da banalidade todo um universo de solidão, abismo pessoal e necessidade de compreensão que acabam levando Blanche à loucura.
Sua irmã Stella é casada com Stanley Kowalsky, homem bruto e pouco refinado. Blanche, aristocrática, não entende como a irmã consegue adaptar-se ao marido.
A peça começa quando Blanche, depois de viver um casamento frustrado com um homossexual que se suicida, perde a fazenda de herança da família, cai na prostituição e, completamente desestruturada, vai morar com a irmã.
O choque entre a virilidade animalesca de Stanley e a histeria aristocrática de Blanche funciona como estopim da loucura progressiva dessa última. Violentada pelo cunhado que devassa seu passado obscuro, ela enlouquece.
Jessica Lange, que vive Blanche, acentua desde o início do filme o traço psicótico da personagem. Se é um pouco caricatural, sua interpretação está em sintonia com a personalidade extrema da Blanche imaginada por Williams.
O ponto cômico é a atuação de Alec Baldwin como Stanley. Parece mais um desses garotões bem-nascidos, que frequentam academia de ginástica atrás de uma imagem máscula de laboratório. Não fosse tão desastroso esse Stanley, teríamos uma montagem sem brilho próprio, mas correta.

Vídeo: Um Bonde Chamado Desejo
Direção: Glen Jordan
Elenco: Jessica Lange e Alec Baldwin
Distribuição: Abril Vídeo (tel. 837-4542)

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