São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Cartel mandou carta ao presidente, diz Botero

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ex-ministro colombiano da Defesa Fernando Botero Zea disse ontem que os líderes do cartel de Cali enviaram, em 1994, uma carta ao presidente Ernesto Samper.
A carta seria uma prova de que o presidente sabia de contribuições do narcotráfico a sua campanha.
Botero, que está preso por causa da suposta ligação dos traficantes com a campanha eleitoral, coordenada por ele, deu depoimento ontem a promotores colombianos.
Na carta, segundo Botero, os traficantes Gilberto e Miguel Rodríguez Orejuela, os líderes do cartel de Cali, reclamavam das perseguições que o governo estava movendo contra eles.
Os irmãos sugeriam que Samper não deveria fazer isso depois de ter sido ajudado pelo narcotráfico.
A carta fez com que o procurador-geral da Colômbia, Alfonso Valdivieso, adiasse de ontem para amanhã a entrega de novas provas contra o presidente Samper.
Ele pediu tempo para analisar a autenticidade da carta, que ficou em poder da Procuradoria.
No mês passado, Botero passou a atacar o presidente, que já sofria denúncias desde o ano passado. Por causa das novas acusações, o Congresso colombiano deve reabrir um processo que pode levar ao impeachment de Samper (pronuncia-se sampér).
Outro membro do governo foi envolvido ontem no escândalo: o ministro do Interior, Horácio Serpa, foi acusado de ter assinado um recibo de dinheiro destinado à campanha presidencial.
Segundo o deputado conservador (oposição) Pablo Victoria, o dinheiro (equivalente a US$ 15 mil) era parte do lote destinado pelo cartel de Cali à campanha.
Apesar da pressão crescente, Samper disse ontem que não vai renunciar à Presidência. Ele falou em resposta ao arcebispo de Bogotá, dom Pedro Rubiano.
O arcebispo havia pedido ao presidente que deixe o governo durante o processo no Congresso.
Samper telefonou para dom Pedro e disse que não há nenhuma acusação formal no Congresso. Dom Pedro, presidente da Conferência dos Bispos da Colômbia, reiterou o pedido.
Pela lei colombiana, semelhante à brasileira, o presidente é obrigatoriamente afastado do cargo se os deputados chegarem à conclusão de que há indícios contra ele.
Após isso, o processo segue para o Senado, que pode declarar o impeachment do presidente.
Neste caso, o vice-presidente e embaixador em Madri, Humberto de la Calle, assumiria o cargo.
Ontem, ele divulgou uma nota em que diz que não teve "responsabilidades financeiras" na campanha -e, desta forma, não pode ser acusado de ligação com o cartel de Cali.

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