São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Igreja e Aids

Ainda que diplomático, cheio de meandros e completado por declarações de "exagero" nas interpretações, o texto da Comissão Especial do Episcopado Francês que trata da Aids e menciona a camisinha representa um importante avanço.
Tendo tomado todos os cuidados para não ferir a autoridade papal, os prelados franceses ao menos reconhecem o valor profilático do preservativo na prevenção da Aids. Trata-se de uma evidência médica que padres não têm autoridade técnica para contestar.
O que chama a atenção no documento é o fato de que, aos poucos, como é de seu feitio, a cúpula da Igreja Católica vai reconhecendo a necessidade de adequar suas posições oficiais aos problemas de um mundo que evolui rapidamente.
Quando um mesmo princípio, o da preservação da vida atual ou potencial, enfrenta o dilema proposto pela Aids -se usar, não procria; se não usar, pode-se morrer-, uma superação dessa contradição faz-se necessária. Daí as tensões surgidas na igreja nos últimos anos.
É evidente que a fórmula papal -monogamia com fidelidade- é até mais eficaz que o uso do preservativo, mas ela parece considerar que os católicos são uma legião de anjos e arcanjos e não de homens e mulheres com todas as fraquezas que lhes são intrínsecas.
Entre o mundo como é e como se acha que deveria ser, a prudência e a ciência sugerem optar pelo primeiro. Os prelados parecem aos poucos estar-se convencendo disso. Com razão, pois trata-se, literalmente, de uma questão de sobrevivência, das pessoas e da igreja.

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