São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996 |
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Publicidade perigosa A essência da economia de mercado é vender. Para fazê-lo, a publicidade é indispensável e é, observados certos padrões éticos, um recurso legítimo que ajuda a impulsionar a economia de um país. Quando a liberdade de anunciar um produto esbarra na questão da saúde pública, porém, algumas considerações devem ser feitas. Ninguém contesta a proibição da propaganda de remédios de prescrição médica obrigatória no rádio, na TV ou nas publicações dirigidas à população em geral. Se num país como o Brasil, onde a lamentável tradição de automedicação já é tão arraigada, não é difícil imaginar o estrago que a promoção publicitária poderia causar associando a imagem de antibióticos ou benzodiazepínicos a sucesso, mulheres bonitas e dinheiro. Infelizmente, o mesmo não se dá com o álcool e o cigarro, substâncias com alto valor deletério para a saúde, mas anunciadas com muito glamour e pouco controle. Em algumas garrafas pode-se observar uma minúscula advertência contra o "consumo excessivo de álcool". Nos cigarros, há até mensagens como "evite fumar na presença de crianças". Não se pode contestar cientificamente os dizeres, mas eles podem passar a impressão, por exemplo, de que o fumo só faz mal a organismos frágeis. No Canadá, por exemplo, as mensagens antitabagistas rezam: "Fumar vicia"; "fumar provoca câncer"; e "fumar provoca doenças cardíacas e pulmonares". Às vezes, um pouco de alarmismo pode ser uma boa tática, quando o objetivo é preservar a saúde. Por mais fortes que sejam os lobbies dos produtores de bebidas alcoólicas e tabaco, o interesse público exige uma regulamentação mais rigorosa desse tipo de atividade publicitária. A correlação entre restrição à publicidade e diminuição do consumo é unívoca, principalmente entre jovens. Texto Anterior: Igreja e Aids Próximo Texto: O pêndulo de FHC Índice |
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