São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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O pêndulo de FHC

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Que Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Planejamento) não são exatamente afinados até as pedras já comentaram, ainda que, no geral, em voz baixa.
Agora, no entanto, acaba de aparecer até na televisão, mais exatamente no programa "Roda Viva" que a TV Cultura levou ao ar na noite de anteontem. Mais: pela voz de um dos mais íntimos amigos do rei, se não o mais íntimo, o filósofo José Arthur Giannotti.
Louve-se em Giannotti o fato de ter colocado a divergência Serra/Malan na perspectiva que talvez seja a mais correta. "Não é uma disputa entre personalidades e por fatias de poder, mas visões diferentes do processo da economia", avalia Giannotti.
Que diferenças? Entre "políticas desenvolvimentistas", que, na visão do filósofo, seriam representadas por Serra, e o "choque neoliberal", supostamente defendido por Malan.
Do meu canto, tendo a concordar com a primeira definição, sobre "visões diferentes" do processo econômico, mas tenho sérias dúvidas quanto à descrição que Giannotti faz das diferenças. Mas quem sou eu para discordar de um intelectual do porte de Giannotti, mais ainda tendo ele a oportunidade eventual de ouvir confidências do presidente e ser por ele ouvido?
Giannotti insinuou que Fernando Henrique não só sabe das divergências entre os seus dois principais ministros da área econômica como se recusa a arbitrar entre eles porque, se o fizer, terá que optar por uma ou outra posição.
E, sempre segundo Giannotti, o governo de seu amigo FHC está condenado a ser "pendular", ainda que o filósofo tenha concordado com Fernando Barros e Silva, um dos entrevistadores, quando este tascou o rótulo de "centro-direita" para o desempenho do governo no seu primeiro ano.
Ou seja, mesmo pela ótica de um amigo, todo cuidadoso em emitir críticas ao presidente, o tal "pêndulo" até agora não "pendulou" muito. Ficou preso ao lado direito ou de centro-direita, o que vem a dar no mesmo, bem feitas as contas.
Ao final do programa, fiquei com uma curiosidade incontrolável: se, algum dia, o pêndulo antevisto pelo amigo-filósofo vier mesmo mais para o centro-esquerda, o que acontece com a disputa Serra/Malan?

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