São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996
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Um negócio milionário

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Enquanto só se fala em Previdência, outros negócios estão em curso em Brasília. Um deles é a troca de cinco dos sete conselheiros do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em resumo, o Cade decide a vida das grandes empresas. Quando há uma fusão que resulte numa concentração de 20% ou mais de um mercado específico é o Cade que aprova a operação.
Criado em 1962, o Cade nunca esteve na mira dos políticos. Não mandava nada, ou quase nada. Nos anos 90, tudo mudou. Uma onda de concentração empresarial assolou a economia global. Novas leis no Brasil deram superpoderes para a autarquia.
Com isso, políticos começaram a salivar ao som da sigla "Cade". Como num desenho animado, enxergam cifrões pela frente. É por isso que PSDB, PFL e PMDB querem impor nomes de seus quadros para atuar dentro do Cade.
O objetivo é óbvio. Políticos decidirão, por exemplo, se a Colgate pode comprar a Kolynos. Um negócio que excede R$ 700 milhões.
Há 71 processos similares, de maior ou menor valor, em análise no momento. Políticos vão aprovar -ou não- operações milionárias desse porte.
Convém lembrar que as empresas podem fazer doações financeiras legais aos partidos políticos no Brasil.
Os conselheiros do Cade têm mandato de dois anos. São indicados diretamente pelo presidente da República. Os cinco que deixam o cargo devem entregar as cadeiras no dia 8 de março.
A renovação do Cade é um daqueles assuntos proibidos em Brasília. Pergunte a um ministro algo a respeito e a resposta será: "Não sei de nada".
Muitos já sabem. Fazenda, Planejamento, Justiça e Indústria e Comércio discutem avidamente o caso. Oficialmente, toda a área econômica é contra a entrada de políticos no Cade.
Na outra ponta, os partidos governistas pressionam para ganhar mais essa mamata. A propósito, um conselheiro do Cade ganha até R$ 6.000 por mês.
Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, vai decidir.

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