São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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Manchete exibe mais e erra muito mais

Analista troca escolas por 50 minutos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

A Manchete merece pelo menos um crédito neste Carnaval: fez a cobertura mais extensa da festa.
Na segunda-feira, começou a transmitir o desfile carioca a partir das 18h, momentos antes de a primeira escola entrar na Sapucaí.
A Globo, de olho no Ibope, antes exibiu as novelas que mostra o ano inteiro, os noticiários de todos os dias e um filme sem graça.
Só começou a mostrar o Sambódromo depois das 23h, perdendo as três primeiras escolas.
A Manchete mostrou mais, logo errou mais, muito mais.
Fernando Pamplona, um dos seus comentaristas, conseguiu cometer uma das maiores gafes da história da televisão brasileira.
Pamplona passou 50 minutos fazendo críticas incompreensíveis ao enredo da Estácio, sobre as telecomunicações, até arrasar de vez com o desfile: "Já vi passar dois terços da escola e ainda não vi uma única ala de negros".
Dois minutos depois, voltou ao ar: "Comi barriga. Pensei que quem estivesse desfilando era a Unidos da Tijuca. Desculpe".
A escola da Tijuca, que viria em seguida, homenageava Zumbi com negros em todas as suas alas.
Paulo Stein, o narrador, não cansava de lembrar que o desfile na Manchete era todo patrocinado: uma marca de relógio anunciava o tempo de desfile, uma cachaça dizia quem era quem em cada escola, um biscoito salgado alimentava a equipe da emissora e uma cerveja aliviava a sede. Uma tragédia.
Os comentaristas, uma meia dúzia, entre eles o distraído Pamplona, trocavam idéias com a descontração de quem conversa em botequim, recheando a transmissão com quilos de "olha só", "aliás", "olha aí" e "pois é".
Já os repórteres, abusavam da falta de sensibilidade e educação. Um deles disse: "Para quem é chegado, na comissão de frente da Unidos da Tijuca só tem negão".
Um outro, na tentativa de entrevistar Maria do Carmo Jerônimo, a mulher de 124 anos que sobreviveu ao desfile, quase a matou com o microfone. Diante da ação de um segurança, que o impediu, disse a Paulo Stein: "Vou dar só mais uma tentadinha". Socorro!

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