São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
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A mulher de quatro

JOSIAS DE SOUZA

SÃO PAULO - Calma, calma. Não tomem o título pelo todo. Sou um aliado da causa. Veja bem: um aliado. Diria mesmo um entusiasta.
E é como simpatizante que dirigirei duas palavras às feministas. Eis o meu conselho: esqueçam o homem. O macho já não é o grande inimigo. Concentrem-se na mulher.
Sim, isso mesmo. A mulher será a grande Judas do feminismo. Refiro-me a um tipo muito específico de traidora. Falo da fêmea-foliã.
Pode-se enxergar o baile de Carnaval de diversos ângulos. Do ponto de vista sociológico, é uma manifestação genuína de nossa cultura popular. Submetido à ótica da Igreja, não passa de uma festa pagã.
Finalmente, filtrado pela lente da câmera de TV, o baile de Carnaval transforma-se na bastilha do feminismo.
No salão, a luta libertária da mulher é como que esquartejada em meia dúzia de cenas. O cinegrafista a serve em pedaços. Esfrega na cara do telespectador ora o seio, ora a nádega. Ora o umbigo, ora o púbis.
A TV dá também forma auditiva à degradação feminina. Despeja diante de nós pequenas entrevistas em que a fêmea expõe a pior forma de nudez: a nudez cerebral.
Há mais e pior: os concursos carnavalescos de beleza. Vi sábado passado a escolha da mais bela "felina". Em uma palavra: espantoso. Gestos de gata, mulheres lindas arrastavam-se pela passarela. Caminhavam de quatro. Espremiam-se contra um cano. Expunham suas frestas mais íntimas.
É de se perguntar: onde estão as feministas que não fazem uma enorme fogueira de pandeiros e cuícas? Até quando permanecerão inertes diante da TV, comendo pipoca?
A mulher passa o ano tentando provar sua superioridade. E, nos escassos quatro dias de Carnaval, torna-se o mais débil mental dos seres.

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