São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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O traidor da pátria

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Arílson, o jogador que deixou a seleção de futebol para trás, foi encontrado pela Globo em Caxias do Sul, num estádio, assistindo um jogo. Perguntado sobre a decisão de Zagalo de vetar a sua convocação enquanto for treinador, ele declarou:
- Como troca de jogador num time, pode trocar de treinador também.
Talvez ele não tivesse idéia ainda da repercussão do que fez. Na própria Globo, a cobertura usou expressões ofensivas, como "ele vai pagar muito caro".
Na Bandeirantes, Arílson foi atacado também duramente por Tostão.
Na CBN, descreveram a "fuga" como fruto de maquiavelismo, dizendo que foi "muito hábil". Narraram, desde o princípio, "Arílson arquitetava os últimos passos de seu plano" etc.
Mais para a frente, "a sua esposa, no Brasil, se mostrou estarrecida". Também Roberto Carlos, porta-voz dos jogadores:
- Ele sabe o que fez. Ele sabe o que fez. Ele deixou a gente na mão.
Para culminar, claro, Zagalo falou em traição ao Brasil, para todas as redes:
- Ele acabou traindo o verde-amarelo.
Arílson, cuja mãe era doméstica e acaba de se transferir para a Alemanha, para ganhar muito dinheiro, talvez tenha imaginado que a seleção fosse apenas a equipe da CBF, o time de Ricardo Teixeira.
O que é, aliás.
Mas não, não adianta, que acreditam que é a pátria em chuteiras. E Arílson, o traidor.
Modelo
Alberto Fujimori chegou junto com uma entrevista, na Bandeirantes, em que deixou claro que não mudou, desde o golpe. Ainda acredita, por exemplo, que "não é necessária a intermediação" dos partidos.
Um ditador, tratado ontem com uma reverência inqualificável, com elogios à sua redemocratização, à sua ação social, à sua "autoridade". A vergonha da América Latina, tratada como modelo.
Aliás, ele já quer a reeleição, um terceiro mandato -no que é a obsessão dos regimes semidemocráticos da América Latina. Fernando Henrique, que segue o modelo, que o diga.

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