São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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Prioridade para o transporte público

MAURÍCIO LOURENÇO DA CUNHA

Os serviços de transporte coletivo na Grande São Paulo tiveram menores índices de aprovação por parte da população e dos usuários, segundo pesquisa do Gallup encomendada pela Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) para aferir a imagem e o grau de satisfação da população e dos usuários em relação ao transporte público.
A avaliação é correta. Os nossos clientes -antigamente chamados de passageiros- estão certos ao se queixarem da lentidão e dos atrasos, principalmente dos ônibus. É que eles disputam com os automóveis um espaço que parece ficar cada vez menor. E de nada adianta colocar mais ônibus nas ruas e nas faixas exclusivas. Esta é uma cidade onde o trânsito se move a míseros 10 km/h, em que é normal a soma dos congestionamentos passar diariamente dos 100 km e onde há cinco anos não se constrói um metro de metrô.
As quase 50 empresas de ônibus da capital filiadas ao Transurb e que transportam cerca de 6,6 milhões de pessoas diariamente em 11.000 ônibus fazem a sua parte para melhorar o transporte. Junto com a gestora do sistema, a SPTrans, e a ajuda da Fundação Getúlio Vargas, instituíram um programa de gestão de qualidade além de pesquisas periódicas que nos orientam para os passos que devemos dar visando serviços dignos para a cidade.
Elas vêm renovando as suas frotas para que os ônibus não passem dos 8 ou 9 anos de uso. Implantaram controles para reduzir ao mínimo a emissão de poluentes. Encomendam carrocerias que privilegiam o conforto dos clientes e a comodidade dos seus profissionais. Trabalham, enfim, em parceria com seu consumidor.
Estes são alguns exemplos de como as empresas de ônibus vêm agindo para dar sentido prático à certeza de que a cidade precisa de uma política de transporte público.
Da mesma forma, a sociedade civil precisa se conscientizar de que o transporte público é prioritário, pois atende os interesses coletivos. Deve se unir e reivindicar mais atenção principalmente para o modo ônibus, responsável pelo direito de ir e vir de muito mais da metade daqueles que se utilizam diariamente de transporte público.
O direito ao trabalho, consagrado na Constituição, pouco significa se não se der ao cidadão os meios para que ele o exerça.
Intimamente ligado à dignidade das pessoas, ao seu crescimento e à realização pessoal, o transporte público de passageiros, em vez de ser visto como uma mercadoria ou um ônus inevitável da expansão urbana precisa ser reconhecido como um direito do cidadão para que o Estado e a sociedade assumam, de fato, a responsabilidade pelo seu provimento.

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