São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996 |
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Nós, os feios
ALEX PERISCINOTO
É difícil chegar a um consenso quando o assunto é estética. Porém, quando o assunto é ética, a briga fica feia. Falo disso por causa de uma campanha norte-americana que prega seu padrão de beleza, sem usar de qualquer ética e sensibilidade. Em lugar de criatividade, usa de grosseria e mau gosto. O filme foi feito pela agência Fitzgerald & Company, de Atlanta. Trata-se de um comercial para incentivar as pessoas a fazer exames de vista. O texto diz: "Franklin Roosevelt usava óculos. A questão é: será que os estava usando quando se casou com Eleanor?". Citam Harry Truman e sua esposa Bess, L.B.J. e sua esposa Lady Bird, só livrando a cara de John Kennedy, dizendo que esse, felizmente, não usava óculos. E alertam: "Antes de se casar, ou de votar, por favor, faça um exame de vista na Opti-World". Admiro os publicitários norte-americanos, mas às vezes eles pisam na bola, mesmo quando não a enxergam. Eu, que faço parte do rol dos feios, protesto. O comercial é sem sutileza, feio e deselegante. Sei, como homem e publicitário, que muito mais que imagem de beleza, trabalhamos para um ideal de ética e respeito. Cito um fantástico comercial do Mc Donalds, que mostra uma menina e a primeira vez que ela vai usar óculos: pensando que os óculos a deixaram feia, ela acaba descobrindo e se harmonizando com o mundo onde outras pessoas usam óculos como ela, e são felizes. Um exemplo de sensibilidade e cuidado, principalmente quando o assunto é a criança e os seus complexos. Complexos como o que carrego desde pequeno. Uma vizinha sempre pedia para minha mãe: "Você com tantos filhos, por que não me dá um?". "Leve o Alex", e a vizinha, depois de olhar feio para mim, dizia: "Não, esse eu não quero". Texto Anterior: Gays e lésbicas criam associação Próximo Texto: O cerco ao consumidor Índice |
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