São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 1996
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"O Quatrilho" bate premiados de festivais

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Restrito ao circuito periférico dos grandes festivais de cinema, "O Quatrilho", de Fábio Barreto, deu a volta por cima na corrida ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira.
Oscar é política: a precisa fórmula do grande embaixador de Hollywood no Brasil, Harry Stone, explica tudo. Até ao conquistar sua indicação, "O Quatrilho" afirma-se sobretudo como um triunfo de produtor, fruto de uma agressiva estratégia de inserção no mercado americano.
Se tivessem sido estéticos os critérios da Academia, a lista final seria em outra. Para ficar em três preteridos, o melhor da produção não-americana do ano passado inclui por certo "Underground", o retumbante épico sobre a guerra civil iugoslava que valeu a segunda Palma de Ouro a Kusturica; a desconcertante "A Comédia de Deus", do outsider português João César Monteiro (Prêmio Especial do Júri em Veneza); e o thriller metacinematográfico "O Confessionário"; do mago do teatro canadense, Robert Lepage.
Mesmo dentro dos critérios do showbusiness, foi impossível negar a surpresa frente a lista de cinco produções escolhidas dentre as 40 indicadas (leia quadro abaixo). Às vésperas do anúncio dos selecionados, uma das publicações mais bem informadas do mercado, a "Moving Pictures", num dossiê dedicado à disputa, elencava os cinco mais prováveis e errava três: a comédia francesa "Uma Cama Para Três", "O Balão Branco" e o drama norueguês "Kristin Lavransdatter", de Liv Ullman.
As duas previsões corretas eram o italiano "L'Uomo delle Stelle", de Giuseppe Tornatore, e o holandês "Antonia's Line", de Marleen Gorris. Correndo por fora, "O Quatrilho", o sueco "Tudo É Justo", de Bo Widerberg, e o argelino "Dust of Life".
Fora a ligeira desvantagem deste último, um drama político sobre as desventuras do filho de uma vietnamita e um soldado negro americano, as chances parecem iguais. "O Homem das Estrelas" é tão calcado em "Cinema Paradiso" que pode repetir o feito e dar a Tornatore seu segundo Oscar. "A Linha de Antonia" é um hit feminino na escola de "O Piano".
As legendas devem atenuar parte das deficiências de "O Quatrilho" para o público externo, enquanto seu tema (amor entre imigrantes) deve soar como música para os veteranos da academia. Por fim, "Tudo É Justo" dá ao mestre sueco Bo Widerberg, um dos ídolos de Bergman, a terceira chance de consagrar-se com um Oscar.

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