São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Governo derrota Sarney e antecipa votação

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo saiu vitorioso de mais uma queda-de-braço com o presidente do Senado, José Sarney (PDMB-AP). Apesar da articulação de Sarney, com apoio de parte do PMDB, os líderes do PFL e PSDB conseguiram aprovar a urgência para a votação do projeto da nova Lei de Patentes.
A urgência foi aprovada por 43 votos favoráveis, 11 contrários e uma abstenção. O projeto será votado no Senado amanhã.
O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu ontem pela manhã ao líder do governo, Elcio Alvares (PFL-ES), e aos vice-líderes governistas empenho para apressar a votação do projeto.
A nova lei vai permitir o patenteamento de remédios, alimentos e produtos de química fina.
O governo brasileiro quer a aprovação do projeto até amanhã, quando chega ao país o secretário de Estado dos Estados Unidos, Warren Christopher.
Os EUA querem a regulamentação do uso de patentes no Brasil, sob ameaça de retaliar economicamente. Empresas norte-americanas, em especial farmacêuticas, têm produtos seus reproduzidos no Brasil sem pagamento de direitos.
O governo também pede pressa justificando que FHC vai ao Japão em março e quer levar na bagagem o sinal de que a legislação será modernizada.
Sarney tentou evitar a aprovação da urgência e chegou a marcar a votação da nova lei para o dia 26 de março. "Esta matéria é polêmica e não precisa ser votada com urgência. Tem ser muito discutida", disse Sarney.
Para atender Sarney, o líder do PMDB, Jader Barbalho (PA), retirou sua assinatura ao pedido de urgência requerido por Alvares, mas a manobra não foi bem sucedida.
Alvares precisava de 54 assinaturas e compensou o recuo de Barbalho -que representa 24 senadores- colhendo a de outros parlamentares.
Sarney tem restrições ao substitutivo defendido pelo governo, do senador Fernando Bezerra (PMDB-RN). Este substitutivo atende às exigências dos EUA.
A principal destas exigências é a adoção do "pipeline", mecanismo que obriga o país a reconhecer patentes de remédios, produtos de química fina e alimentos que já foram registrados em outros países mas ainda não estão sendo comercializados.
Na prática, o "pipeline" significa a concessão retroativa de patentes, dando aos seus detentores a exclusividade de produção e comercialização do produto e o direito de cobrar pelo uso por terceiros.
Sarney apóia outro substitutivo, do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que não adota a concessão retroativa de patentes.
Há outras divergências entre os pareceres, como a definição sobre patente de microorganismos.
Haverá confronto entre os dois pareceres no plenário. A preferência é do substitutivo de Suassuna, que foi relator na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), comissão de mérito encarregada de analisar o projeto.

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