São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Cruzado era inviável, dizem economistas

DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Cruzado era inviável. Esta é a opinião dos participantes do debate "Do Cruzado ao Real: Choque e Estabilidade", realizado na última segunda-feira no auditório da Folha.
Primeiro choque econômico heterodoxo brasileiro visando acabar com a inflação, o Cruzado completa hoje dez anos.
Tanto tempo depois, pode ser analisado mais friamente, disseram os debatedores, os economistas João Sayad (ministro do Planejamento no governo Sarney), André Lara Resende (um dos autores do plano) e Edward Amadeo, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. O evento foi mediado pela secretária de Redação da Folha Eleonora de Lucena.
Todos concordaram que o Cruzado não poderia dar certo. Mas nem sempre pelas mesmas razões.
Para Sayad, o congelamento de preços, que gerou grande apoio popular ao plano, foi também o responsável pelo seu fracasso. "O Cruzado, como foi implantado, era inviável", diz dez anos depois.
Segundo ele, entretanto, o Cruzado acabou dando certo na execução do Plano Real.
"Foi um longo caminho até aqui, com planos que serviram de lição para que, enfim, se chegasse ao Real", afirma.
Cultura inflacionária
Para André Lara Resende, a opção por fazer do Cruzado um choque heterodoxo deveu-se, basicamente, à cultura inflacionária da população brasileira.
"Um choque ortodoxo, com um rígido controle monetário e fiscal, era inviável porque tínhamos uma inflação crônica; funcionaria caso as taxas fossem moderadas", diz.
Lara Resende atribui o fracasso do Cruzado à incapacidade do governo de controlar o crescimento da demanda agregada, ao congelamento e ao déficit público.
Para ele, o Real foi feito com a experiência dos erros e acertos dos planos anteriores. Esta seria, até agora, a chave de seu sucesso no combate à inflação.
Edward Amadeo acredita que a inflação alta e crônica esconde, na verdade, desequilíbrios econômicos estruturais de grande porte.
"Quando há um plano e as taxas caem, esses desequilíbrios aparecem e, em geral, precisam de tempo para serem resolvidos. É preciso, então, que existam válvulas de escape", diz.
Amadeo lembra que, tanto no Plano Cruzado quanto no Real, o efeito inicial foi um aumento de demanda.
No Cruzado, entretanto, o país não importou produtos para competir com os nacionais.
O resultado, segundo ele, foram as filas de consumidores, o ágio nos preços e, com isso, a volta da inflação. No Real, as importações e as restrições ao crédito foram as válvulas de escape utilizadas pelo governo.

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