São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Os segredos do sucesso

BILL GATES

Tenho consciência do valor do tempo. Não jogamos conversa fora, nas reuniões
Com tantas empresas dedicando atenção à Internet, suas falhas serão superadas
Pergunta - Por favor, me explique o segredo de seu sucesso. Ghanapathi, Malásia, ghana@pl.jaring.my.
Perguntas semelhantes foram feitas por Eric Sierralta (Chile, eric@reuna.cl), Rachel Mathew (Índia, rachel@img.wipsys.soft.net) e Sara Wisking (Ottawa, Canadá, al903@freenet.carleton.ca).
Resposta - Não existe um segredo único que funcione como a chave para o sucesso, mas existem certas atitudes e abordagens que contribuem para chegar lá.
Vou descrever três dessas atitudes e abordagens que me ajudam a ter sucesso.
Em primeiro lugar, tenho plena consciência do valor do tempo. Quando participo de uma reunião de trabalho, por exemplo, sempre mantenho alguns objetivos específicos em mente. Não jogamos conversa fora em nossas reuniões, especialmente quando são com colegas que conheço bem.
Discutimos contas que perdemos e questões relativas a despesas gerais que estão altas demais. E pronto! Fim da reunião.
Sempre há mais desafios a enfrentar do que horas no dia, então por que desperdiçar essas horas?
Em segundo lugar, fico constantemente atento à concorrência. A Microsoft está sempre procurando coisas novas que estejam surgindo, sejam no laboratório de pesquisas, sejam novidades vindas de outras companhias.
Procuramos entender o que outras empresas estão fazendo, mesmo que, aparentemente, esteja tão distante de nós que não constitua concorrência evidente.
Prestamos atenção, principalmente, ao que as empresas estão fazendo bem, não ao que estão fazendo mal.
Não desprezamos uma empresa, considerando-a sem importância, só porque muitas coisas nela são imperfeitas.
A empresa em questão pode estar fazendo alguma coisa importante, mesmo que ela não se dê conta disso.
Com isso, acabamos enxergando muitas ameaças potenciais que nunca chegam a se concretizar.
Na Microsoft, há um fluxo constante de memorandos enviados por funcionários preocupados com uma ou outra ameaça possível. Mas não é muito frequente lançarmos um alarme falso.
Em terceiro lugar, quando discutimos problemas e desafios que se colocam para a direção da empresa, não me contento em ouvir chavões, embora alguns chavões -tipo "ouça seu cliente" ou "capte todas as informações disponíveis"- sejam sábios, até certo ponto.
Às vezes, um chavão bem escolhido é capaz de botar as pessoas para pensar no rumo certo.
Às vezes, um gerente faz uma contribuição válida quando diz: "Vamos refletir sobre isto desde o ponto de vista do consumidor".
O que me irrita, porém, é o gerente cuja contribuição se limita a repetir lugares-comuns.
Já estive em reuniões nas quais havia problemas concretos a resolver, e a única contribuição de algum participante era dizer coisas do tipo: "Bem, só devemos fazer o que o cliente quer. Não vamos nos esquecer disso."
É preciso raciocinar sobre o problema concreto a resolver, não apenas repetir chavões.
É claro que queremos agradar os clientes. Mas como? O que será preciso fazer, quais serão os ganhos e as perdas?
Em uma grande empresa, traduzir o sentimento por trás do chavão para uma ação efetiva muitas vezes significa criar um sistema. Isso pode ser um problema nada desprezível.
Um chavão com o qual concordo plenamente é que a empresa deve ser movida pelo consumidor: ela deve prestar muita atenção ao que os consumidores dizem querer e deve dirigir seu trabalho no sentido de satisfazer esse desejo.
Na Microsoft, nosso objetivo é esse -satisfazer os consumidores- e buscamos atingi-lo por meio de um esforço sistemático.
Por exemplo, registramos no computador cada contato telefônico com clientes e consumidores e depois analisamos os resultados, objetivando tanto melhorar nosso atendimento ao consumidor quanto aperfeiçoar nossos produtos.
Ainda estamos longe da perfeição, mas com esses sistemas já chegamos a resultados muito melhores do que se tivéssemos nos contentado só em repetir chavões.
Pergunta - Você tem bons amigos, velhos amigos, com quem se encontra só para bater papo? José Antonio Carda, Chile, (joselo@lascar.puc.cl).
Resposta - Sim, tenho amigos da vida inteira, que eu curto muito. Por acaso, um deles é Paul Allen, que fundou a Microsoft junto comigo.
Ele ainda faz parte do conselho de diretores da Microsoft e frequentemente nos encontramos para fazer coisas como assistir a um jogo de basquete.
De vez em quando, nossas conversas ficam filosóficas, mas você provavelmente não se surpreenderá em saber que mesmo com meus amigos íntimos eu converso sobre computadores, ciência e economia. Esses assuntos, para mim, são instigantes.
Pergunta - Existe alguma razão pela qual a Microsoft demorou tanto para se dar conta da importância da Internet? (Ravee@aloha.net)?
Resposta - Há anos, a Microsoft já antecipava ansiosamente a revolução nas comunicações.
Desde muito tempo atrás, Paul Allen e eu acreditávamos que os padrões de trabalho, entretenimento e aprendizagem iriam mudar radicalmente quando as informações digitais pudessem ser intercambiadas por redes informatizadas que chegariam a quase todas as empresas e à maioria dos lares.
Desde então, a Microsoft investiu centenas de milhões de dólares, antecipando as oportunidades que seriam abertas com esse tipo de comunicação em rede.
A Microsoft também previu que, uma vez iniciada a revolução, ela iria acontecer rapidamente.
Prevíamos o surgimento de um ciclo de feedback positivo, no qual o rápido aumento do número de usuários e o rápido aumento do conteúdo disponível iriam alimentar-se mutuamente, criando uma forte espiral ascendente.
Em 1993, reconhecemos que o gatilho do ciclo de feedback positivo poderia ser a Internet. Por isso, mobilizamos várias forças-tarefa para estudá-la.
Naquela época, eu, pessoalmente, pensei muito sobre a Internet e cheguei a escrever um memorando sobre o assunto.
Mas estávamos cautelosos, porque a Internet apresentava vários inconvenientes -entre eles, capacidade e segurança limitadas- em comparação ao que seria possível, usando outras abordagens.
Por outro lado, a história já provou que é possível superar praticamente qualquer limitação, desde que se dedique energia suficiente a isso.
Em suma, embora soubéssemos que o raio iria cair algum dia, desencadeando uma revolução nas comunicações que seria ainda mais importante do que a do PC, não sabíamos exatamente onde iria cair, nem sob que forma.
O raio acabou caindo logo. O público sentiu um gostinho da interatividade da World Wide Web, na Internet, e disse: "Não vamos esperar uma solução melhor. Vamos embarcar nessa já!"
Aquele raio que caiu foi realmente impressionante. Ele nos infundiu enorme energia.
Não é exagero dizer que hoje a Microsoft dedica a maior parte de suas energias ao aproveitamento das oportunidades oferecidas pela crescente popularidade da Web.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência pode ser enviada a Bill Gates no endereço eletrônico askbill@ microsoft.com.

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