São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cuba sabia ter atingido civis, dizem EUA; ONU deplora

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O governo dos EUA divulgou ontem transcrições de fitas que, segundo ele, provam que pilotos da Força Aérea cubana sabiam estar derrubando aviões "civis, desarmados e que não representavam ameaça" no sábado passado.
A embaixadora dos EUA junto à ONU, Madeleine Albright, disse ter sentido um particular choque com "a alegria" dos pilotos com a sua ação, segundo ela revelada pelas fitas.
Ela também se referiu à "vulgaridade" usada (pelos pilotos) para descrever o que era preciso para derrubar os aviões. "Mas o que era preciso não eram 'cojones' (culhões), mas sim covardice", disse Albright.
Pela manhã, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma declaração em que "vigorosamente deplora" a derrubada dos aviões da entidade Irmãos para o Resgate, no sábado passado, que resultou na morte de quatro pessoas.
Foi uma derrota política para os EUA, que haviam pedido uma resolução para condenar a ação. Uma resolução do conselho exige que seja feita uma votação e é mais forte do que uma declaração.
Os EUA são o único membro do conselho interessado em punir Cuba pelo incidente. Os demais parecem se satisfazer com uma censura, como a já aplicada. A China indicava estar disposta a até menos do que isso.
Líderes da comunidade cubano-americana e opositores do presidente Bill Clinton condenaram ontem o que consideram uma reação "fraca" de seu governo ao episódio de sábado.
O senador Bob Dole, que tenta ser o candidato do Partido Republicano contra Clinton na eleição de novembro, disse que o presidente "está mimando" Fidel Castro e que sua retaliação a Cuba é "uma vergonha".
O presidente da Câmara, Newt Gingrich, disse que Clinton terá em uma semana um texto final da lei Helms-Burton para ampliar o embargo econômico de 34 anos dos EUA contra Cuba.
Clinton havia prometido vetar a lei por causa de algumas de suas disposições, consideradas excessivas pela Casa Branca, sede do governo norte-americano.
Entre elas, a que dá a cidadãos norte-americanos o direito de processar empresas de outros países que tenham usado desde 1959 qualquer propriedade estatizada pelo governo cubano.
A entidade Irmãos para o Resgate prometeu realizar novos vôos na mesma área do incidente no próximo sábado, apesar de aconselhada pelo governo dos EUA para que não aja assim.

Texto Anterior: Velhos e felizes
Próximo Texto: Leia declaração emitida pela ONU
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.