São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Doentes alternam depressão e infecções

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Durante os três meses em que a Folha acompanhou a vida de seis brasileiros soropositivos que vivem em Nova York, a reportagem teve que ser interrompida diversas vezes por causa de crises de depressão e agravamento dos problemas de saúde dos entrevistados.
O ex-bailarino Eduardo T., 41, que hoje trabalha como garçom na Metropolitan Opera, pensou várias vezes em desistir da entrevista porque se sentia deprimido. "Sabia que era muito importante o meu depoimento. Mas durante uns três dias parei de falar com todo mundo. Não sei por quê. Depressão é assim mesmo: vai e volta sem a gente saber direito o motivo."
O mineiro P., que trabalha posando nu para estudantes numa escola de artes, também interrompeu o contato diário que tinha com a reportagem por causa da morte de Marquinhos, apelido de outro brasileiro que tinha o vírus da Aids e que morava em Nova York.
"Quando um amigo morre, a gente sempre fica abalado", disse P., no domingo passado no Central Park, duas semanas após ter ajudado a jogar as cinzas do amigo no parque, J., seu namorado há oito anos, desistiu de participar da reportagem ao saber que a imigração havia descoberto sua tentativa de forjar o casamento com uma americana para conseguir o Greencard (documento que permite que imigrantes morem nos EUA).
Outra dificuldade enfrentada pela reportagem foi encontrar brasileiros que se dispusessem a mostrar o rosto. A maioria temia ser reconhecida, já que costuma esconder de amigos e parentes que são portadores do vírus. "Ninguém no Brasil sabe", diz M., que vive com um jornalista italiano.
Eduardo T. contou recentemente à mãe, mas ainda prefere esconder do pai que tem o vírus.
A fragilidade da saúde dos portadores do HIV também atrapalhou o trabalho da reportagem. O carioca Marco Aurélio da Silva, 38, ficou uma semana sem dar sinal de vida depois de ter sofrido uma infecção misteriosa que o deixou na cama com febre de 42ºC. "Pela primeira vez pensei que fosse morrer."
O ex-engraxate Luis de Souza ainda não teve problemas de saúde por causa do HIV, mas seu parceiro, o norte-americano Thomas, alterna momentos de lucidez e loucura por causa de uma toxoplasmose contraída há seis meses.
(DF)

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