São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Portador esconde diagnóstico de pais

Alguns nem revelam serem homossexuais

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Na Quarta-Feira de Cinzas pela manhã, o carioca Eduardo T., 41, telefonou de Nova York para sua mãe, em Teresópolis (RJ), e, em poucos minutos, encerrou um segredo de oito anos: contou que tinha Aids.
Antes, perguntou se ela estava sentada e o pai, fora da sala. Eduardo temia que a notícia abalasse seu pai, que tem 87 anos e tem problemas coronários. Depois de asseguradas as precauções, foi direto ao assunto. "Disse que o que ela temia era verdade e que eu era HIV positivo. Ela ficou um pouco em silêncio e depois perguntou desde quando eu sabia."
Quando soube que era soropositivo, Eduardo decidiu que só contaria sobre a doença para o irmão. Aos poucos foi dividindo a notícia com primos e tias que iam visitá-lo em Nova York. "Meus pais já tinham sofrido muito por minha causa. Eu temia pela saúde deles."
Eduardo conta que decidiu contar que era soropositivo para a mãe porque ela estava pressionando parentes, desconfiada de que os problemas de saúde do filho era causados pelo HIV. Segundo Eduardo, dividir a notícia com a mãe foi como tirar um peso das costas.
"Nem em sonho poderia imaginar que ela aceitaria tão bem. Não teve choro e ela decidiu vir passar o Dia das Mães comigo. Meu irmão também deve vir. Vai ser a primeira vez em muitos anos que nós passamos o Dia das Mães juntos."
A decisão de falar para a mãe que era soropositivo foi mais fácil para Eduardo porque seus pais sabiam que ele era gay. "Dei muito trabalho. Usava cocaína em casa e meus pais me acompanharam em duas idas ao hospital com overdose. A Aids era meu último segredo."
Luís de Souza, ex-funcionário da Varig, não quer contar para a mãe que é soropositivo para não ter que tocar no assunto homossexualismo. "Se eu contar, ela vai querer saber como peguei e a conversa vai ficar tensa."
(DF)

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