São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Partido terá de negociar com os grupos regionais

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhor análise do resultado de ontem pertence ao porta-voz da IU (Esquerda Unida), Félix Mártinez de la Cruz: "Cai o PSOE, mas a alternativa de mudança não convence, tanto que o PP não obteve a maioria absoluta".
Mártinez de la Cruz poderia ser até mais incisivo: o PP, computados mais de 74,1% dos votos, ficava 20 cadeiras distante da maioria absoluta, o que confirma a análise de que se abre um período de instabilidade política para a Espanha.
Os conservadores serão agora obrigados a uma delicada negociação com a coleção de partidos regionais que conseguiram cadeiras no Congresso dos Deputados.
São oito conglomerados desse tipo, os mais fortes dos quais o PNV (nacionalista basco) e a CiU (Convergência e União, da Catalunha).
Pior para o PP: a derrota do PSOE foi bem menos marcante do que se esperava, em função dos escândalos que abalaram o partido e do que as pesquisas indicavam.
Tanto assim que, computados mais de 60% dos votos, com a vitória do PP já desenhada, os militantes do Partido Socialista Operário Espanhol, concentrados ante a sede partidária da rua Ferraz, no centro de Madri, ainda gritavam: "Se sente, se sente, Felipe presidente".
Grito justificado pelo fato de que, quando os cômputos oficiais já atingiam 52,5% dos votos apurados, o PSOE levava vantagem sobre o PP, com 38,2% contra 37,7%.
Perdia no número de deputados porque o sistema de representação proporcional permite esse tipo de distorção. O PSOE obteve mais votos em regiões de menor número de vagas no Congresso, ao contrário do Partido Popular.
Além disso, os primeiros números indicavam a vitória dos socialistas na Andalucia, no sul do país, na única eleição regional disputada ontem, simultaneamente com a eleição geral.
Na prática, ao que tudo indica, a eleição de ontem partiu a Espanha política em dois pedaços de tamanhos não muito diferentes, o conservador e o social-democrata.
Com isso, os grupos regionais ficam com poder para inclinar a balança para um ou outro lado, o que só dificulta mais as coisas para os conservadores.
Ainda que os regionalistas sejam, na maioria, também conservadores, têm reivindicações muito específicas, que raramente coincidem com as prioridades nacionais do Partido Popular.
(CR)

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