São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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É A DEMOCRACIA, BOBALHÃO!

"It's the economy, stupid!"
Essa foi uma das frases de efeito que mais marcaram a última campanha presidencial nos EUA. "É a economia, bobalhão", insistiam os democratas, enquanto os republicanos apelavam para a necessidade de resgatar os valores americanos.
Clinton saiu-se vencedor, em parte porque de fato os problemas econômicos nos EUA do final dos anos 80 dominavam não apenas a vida prática, mas também o imaginário do americano médio. Dos "homeless" à propalada derrota para o Japão no território econômico, os democratas preencheram seu discurso com um sentido de urgência prática que de fato parecia mais relevante que o apelo emocional dos republicanos.
Nas últimas semanas uma nova corrida presidencial ganhou os meios de comunicação americanos. Mídia e política, como se sabe, são feitos essencialmente de novidades. Mas a novidade da atual campanha é que não há novidades. Democratas e republicanos continuam presos à mesma agenda. Os democratas continuam insistindo, apesar da virada econômica e tecnológica dos últimos anos, em que "it's the economy, stupid". E os republicanos, numa disputa interna ainda acirrada para definir seu candidato, primam pelo velho discurso de resgate moral.
O que os institutos de pesquisa e o próprio debate na opinião pública revelam, entretanto, é que o grau de envolvimento dos americanos com essas questões está condicionado antes de tudo por uma profunda e crescente decepção com a própria política.
Antes de ser moral ou econômica, a crise política americana tem sido definida por inúmeros analistas políticos como uma crise de confiança nas próprias instituições, exemplificada pelo número declinante de eleitores (lá o voto é facultativo).
A campanha está apenas no seu início. Mas não deixa de ser já visível, e preocupante, que na mais emblemática das democracias contemporâneas o clima seja de uma deprimente insatisfação com os produtos políticos disponíveis no mercado.
Os laços entre as instituições democráticas e a sociedade civil precisam passar por uma reconstrução bastante urgente. Lá, como cá, "It's the democracy, stupid".

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