São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Ameaças e bravatas

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - Desabrigados das chuvas no Rio foram impedidos de ocupar apartamentos num conjunto habitacional da Maré, na zona norte.
A mesma área onde, no final do ano passado, um torcedor foi morto ao errar o caminho para São Paulo.
Nos dois episódios, os traficantes locais foram apontados como culpados e a resposta do governo foi uma só: ameaçar ocupar a área com policiais militares.
Parece ironia que a presença de policiais seja anunciada como ameaça. Colocar policiais nas ruas e manter a segurança é uma das obrigações do Estado.
O governo deve cumprir essa obrigação e parar de fazer bravatas, confundindo a tarefa essencial do policiamento com expedições punitivas.
O fracasso das ações da Operação Rio, que contaram com a presença das Forças Armadas, mostrou que o combate à violência urbana deve ser feito de forma permanente e num contato direto com a comunidade que sofre seus efeitos.
Colocar hordas de policiais de um dia para outro e retirá-los com a mesma velocidade não resolve o problema. Serve para reforçar na população a certeza de que se vive em áreas onde o governo não garante os direitos dos cidadãos.
*
As eleições estão se aproximando e governador e prefeito usam e abusam da paciência dos eleitores, criando a cada semana um novo foco de atrito entre ambos, de forma a tentar garantir espaços no noticiário.
A estratégia de aparecer sempre, mesmo que à custa de crises artificiais, não engana a ninguém. Enquanto "brigam", Marcello Alencar e César Maia querem na verdade afastar as atenções públicas de suas omissões na tragédia das chuvas.
Maia anuncia agora que não há mais condições para manter o compromisso de buscar um candidato único com o governador.
Enquanto os dois esbanjam essa criatividade tão fértil em produzir o fútil, o Rio carece de ações concretas, de forma, por exemplo, que se pudesse evitar as últimas mortes em inundações e deslizamentos de encostas na cidade.

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