São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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FHC e governadores esvaziam convenção

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa articulação com os governadores do PMDB e parlamentares aliados, o governo Fernando Henrique Cardoso esvaziou a Convenção Nacional do PMDB.
Foi a mais séria derrota imposta pelo governo ao presidente nacional do partido, deputado federal Paes de Andrade (CE).
O presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-PA), esteve duas vezes na convenção e assistiu, impassível, a mais essa vitória do governo federal.
O resultado da convenção consolidou as vitórias obtidas pelo governo com a aprovação da reforma da Previdência e o arquivamento da CPI dos Bancos.
Paes pretendia usar a convenção para tirar uma posição oficial do partido a favor da aposentadoria por tempo de serviço, respeito aos direitos adquiridos, contra a reeleição do presidente da República e a privatização da Vale do Rio Doce.
Em aliança com o Palácio do Planalto, os governadores e um grupo de parlamentares governistas recomendaram que os convencionais negassem quórum ontem. Nenhum dos nove governadores esteve na convenção.
Acordo
Paes verificou que não havia quórum às 15h30. Chegou a pensar em desistir de colocar em votação os temas polêmicos. Os governistas propuseram um acordo.
Para evitar um vexame maior, Paes aceitou a aprovação de uma moção de recomendação de voto. O líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PA), participou das negociações.
Quando a convenção terminou, havia 333 convencionais. O número mínimo era 357. Como ninguém pediu verificação de quórum, tirou-se a moção por aclamação.
A direção não tem instrumentos para obrigar os parlamentares a seguir as recomendações da moção.
A moção recomenda que os parlamentares do partido respeitem os direitos adquiridos nas reformas da Previdência e administrativa e votem contra a privatização da Vale do Rio Doce.
A convenção também recomendou que o debate sobre reeleição para presidente, governadores e prefeitos seja adiado para o próximo ano e que sejam mantidos os fundos constitucionais dos Estados e municípios.
Jader
A manobra do governo e dos governadores irritou Jader e Paes. Jader chegou a propor a explusão dos governadores que articularam o esvaziamento da convenção.
Os líderes do movimento seriam os governadores Antonio Britto (RS) e Maguito Vilella (GO). Perguntado sobre os governadores, Jader afirmou: "Só deve ficar no PMDB quem acredita. Quem não acredita deve cair fora".
Lembrado de que houve muito assédio do Planalto a parlamentares do PMDB durante a semana, o senador respondeu:
"Em mulher séria ninguém dá cantada. Só leva cantada mulher vagabunda. Eu não levei cantada", disse Jader.
Paes chegou a gritar com o deputado Geddel Vieira Lima (BA), numa reunião a portas fechadas. "Os governadores não tiveram coragem de vir aqui. Eles não têm força para me derrotar", disse, enquanto batia na mesa com força.
Mais tarte, declarou: "Não me sinto pessoalmente atingido. O partido é que foi atingido. É desagradável. Eu queria uma festa nos 30 anos do partido. O que me entristece é a fuga dos que deveriam estar aqui".
O presidente do PMDB do Rio Grande do Sul (governado por Antonio Britto, que apóia Fernando Henrique), André Foster, dafirmou que não houve articulação contra a convenção.

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