São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Seguros, 1995 foi muito bom

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Desde o segundo semestre de 1994 que a atividade seguradora nacional vem tendo um desempenho fantástico.
Fechando o primeiro semestre daquele ano com um dos maiores prejuízos operacionais de sua história, os ganhos do segundo semestre foram de tal ordem que não só reverteram o quadro trágico que se delineava na implantação do Plano Real, como, com a estabilidade da moeda, viraram o jogo, encerrando o exercício com o melhor índice de crescimento dos últimos cem anos.
Ao longo de 1993, o setor havia faturado algo próximo dos US$ 5 bilhões. Ao encerrar 1994, esse número havia saldado para US$ 12 bilhões.
Estava provado: com a estabilidade da moeda, a atividade seguradora tinha todos os requisitos para crescer e se igualar aos patamares de outros países onde o seguro tradicionalmente tem uma participação bastante mais expressiva do que os míseros 1% do PIB, que era a sua participação aqui.
O ano passado começou a todo vapor. No primeiro semestre, a venda de apólices continuou tão aquecida quanto no segundo semestre do ano anterior.
E o segundo semestre, que estava sendo visto como uma época de retração das vendas, se manteve exatamente como o primeiro, com as vendas crescendo, especialmente nas carteiras de vida e saúde.
O resultado é que, de acordo com os números que foram quantificados pela Susep -Superintendência de Seguros Privados, 1995 fechou com um faturamento consolidado de pouco mais de R$ 14 bilhões, ou seja, alguma coisa acima de 15% em relação ao ano de 1994.
É um desempenho no mínimo muito bom, especialmente porque a atividade seguradora tem algumas particularidades que fazem com que esse crescimento, aliado a uma série de outros fatores, signifique lucros de monta para quase todas as companhias.
Aliás, a seguradora que não ganhou dinheiro ao longo de 1995 precisa ser vista com alguma reserva pelos segurados.
Com a explosão dos seguros de pessoas, os sinistros globais passaram a ter um comportamento um pouco diferente do verificado até então.
E a sinistralidade de automóveis, com a queda do valor dos carros usados, também contribuiu para essa melhora, mantendo o resultado da carteira, que ainda é a maior do setor, em patamares toleráveis.
A conclusão é que o índice combinado médio do mercado ficou em 98 pontos percentuais, dando às seguradoras um lucro operacional de 2%, que é considerado bom em qualquer lugar do mundo.
Com a sinistralidade média ficando em torno de 58%, bem abaixo dos 68% apresentados em 1994, foi possível continuar convivendo com despesas administrativas e comerciais altas e mesmo assim ganhar dinheiro.
Apesar de algumas seguradoras já apresentarem despesas comerciais comparáveis às de países do Primeiro Mundo, essa ainda não é a regra, e o quadro fica muito pior quando observamos o capítulo referente às despesas comerciais.
Com a sinistralidade ficando dez pontos abaixo da verificada em 1994, o setor teve a folga necessária para repassar parte de seus ganhos para os segurados, reduzindo o preço dos seguros, principalmente de automóveis, que representam cerca de 38% do total dos prêmios.
Para se ter claro o impacto que essa redução da sinistralidade significou, é necessário entender como foi o desempenho do mercado por ramo de seguro.
Quer dizer, entender como se comportaram as diferentes carteiras e como esse comportamento influiu no resultado final.
Tradicionalmente, a carteira de automóveis é a maior e a que tem a maior sinistralidade. Essa regra não mudou.
"Automóveis" continua sendo a maior e contribuindo com a maior sinistralidade.
O que mudou foi o peso de outras carteiras, como vida e saúde, que apresentaram um crescimento espantoso, enquanto os seus sinistros, por suas próprias características, permaneceram baixos.
Enquanto "automóveis" teve um crescimento de 7,7% em relação a 1994, "vida" cresceu no mesmo período 60,%, ao passo que "saúde" cresceu 20%.
O resultado dessa redistribuição do peso das diferentes carteiras é diretamente responsável pelo resultado operacional médio ter sido positivo.
Mas o quadro é melhor ainda. Além de ganharem em média 2% do seu faturamento com o próprio negócio, quer dizer -com o resultado da soma das despesas com sinistros, com comercialização e administrativas ficando abaixo do total faturado-, as companhias de seguros embolsaram também os lucros altíssimos proporcionados pelas taxas de juros praticadas no país ao longo do ano.
O desfecho dessa combinação de fatores positivos foi a maioria das seguradoras apresentar balanços excepcionais, com lucros inimagináveis há alguns anos atrás.
Assim, elas entram em 1996 capitalizadas e com fôlego para prosseguir na briga pelo ganho de eficiência, reduzindo ainda mais seus custos comerciais e administrativos, e prontas para enfrentar as companhias estrangeiras que fatalmente virão para cá, como consequência da desregulamentação da atividade, que já entra em sua fase final.

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