São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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TENTAÇÃO PROTECIONISTA

As autoridades econômicas insistiram nos últimos meses em que a taxa de câmbio é a que deveria ser, em que a exposição crescente à concorrência de produtos importados é uma alavanca da modernização e em que o mais importante é reduzir o chamado "custo Brasil" para exportar mais.
Como é costume no Brasil, a distância entre discurso e prática muitas vezes surpreende. Mas essa distância é aceitável enquanto puder ser entendida como temporária, porque na prática há emergências a enfrentar. Difícil é dar como natural a contradição que se prolonga e aprofunda.
A imposição de tarifas de importação excepcionalmente elevadas para carros e bens duráveis, em 95, surgiu como uma exceção temporária à regra da abertura comercial competitiva, uma contingência inevitável das agruras do "efeito tequila", a crise mexicana. Abril de 1996 era a data apontada como limite para a exceção.
Com a aproximação do limite, entretanto, já se ouve em alto e bom som a mobilização protecionista organizada, clamando pela prorrogação da barreira tarifária ou, no mínimo, por um adiamento do cronograma de redução, em especial para produtos eletroeletrônicos. Optará o governo pela concessão a mais esse grupo de pressão, deixando nas sombras das contradições retóricas os compromissos com a redução do "custo Brasil" e com a liberalização?
Os dados indicam que o setor de eletroeletrônicos vem registrando aumentos de vendas significativos, numa época em que muitos outros setores estão expostos a uma tendência contracionista. Em fevereiro de 1996 as vendas da indústria foram quase 40% superiores a fevereiro de 1995. Diante de tamanhas taxas de crescimento e em se tratando de um setor maduro no país, fica difícil justificar a manutenção de tarifas de importação artificialmente elevadas.
Abril está aí. Será mais uma boa chance para medir a distância entre o discurso e a prática do governo FHC.

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