São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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A hora de separar

JANIO DE FREITAS

A decisão de inquirir envolvidos no atentado do Riocentro, tomada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, é a mais louvável, imaginando-se que haja outras louváveis, do atual Congresso. O Riocentro é um dos assuntos fétidos que o regime militar deixou insepultos e o regime civil ainda não teve a decência de enfrentar.
Maior progresso do que o passo inicial da Comissão, porém, é o dos chefes do Exército, a julgar pelas palavras do ministro Zenildo Lucena e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Benedito Leonel: investigações sobre o Riocentro podem ser assunto da Justiça, mas do Exército não são mais. Embora não haja motivo para reservas em relação às palavras tão surpreendentes, nestas coisas é sempre melhor esperar a demonstração factual.
Vem do mesmo general Leonel um sinal, involuntário, para a espera dos fatos. Em complemento à informação de que investigações do Riocentro não afetariam os militares atuais, disse ele que "idéias preconceituosas, às vezes carregadas de ideologias ultrapassadas, é que podem afetar. Os ataques às Forças Armadas, estes sim. Confunde-se a instituição com pessoas, um engano lamentável que deve ser evitado".
A expressão "ideologias ultrapassadas" já adverte, ela sozinha, de que nem tudo está ultrapassado pelo progresso dos comandos. Mas o restante é definitivo, nesse sentido. Os militares é que sempre confundiram a sua instituição com as pessoas que a integrem. E o fizeram com a finalidade muito clara, desde as origens da confusão, de escudar-se na instituição para tornarem seus erros, tantos deles de alta gravidade, inalcançáveis pelo sentimento nacional de justiça e pelas leis que o exprimam.
O caso Riocentro é um dos exemplos mais gritantes do uso da instituição militar para proteger militares da punição a que estariam sujeitos, se submetidos aos processos criminais previstos, não só nos códigos civis, mas nos próprios códigos penais militares. "Idéias preconceituosas" é que atribuem à paisanada a útil confusão entre instituição e pessoas que a ela mais denigrem do que servem.
Tudo de novo
Está armada outra vez a trapalhada em torno da falsa reforma da Previdência. Nem se conseguiu fazer ainda a listagem aproximada (a completa, nem pensar) dos favorecimentos que paguem a aprovação inicial, e já o governo recomeça o que ele chama de acordos.
Por ora, a impressão mais forte é de que o custo da primeira aprovação foi dinheiro jogado fora. Mas convenhamos que é fácil jogar fora o dinheiro alheio -o nosso.

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