São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996 |
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Governo decide impedir ação da oposição
DENISE MADUEÑO; GABRIELA WOLTHERS DENISE MADUEÑOGABRIELA WOLTHERS O governo decidiu mudar as normas de funcionamento da Câmara antes de dar prosseguimento à votação das reformas da Previdência e administrativa. Essa intenção foi antecipada pela Folha na edição de anteontem. Os líderes governistas concluíram que não vão conseguir aprovar as emendas sem limitar a atuação da oposição. As lideranças aliadas ao Palácio do Planalto decidiram que a emenda da reforma administrativa não será votada enquanto não houver mudanças no Regimento Interno da Câmara. O objetivo da alteração é restringir o uso do chamado DVS -Destaque para Votação em Separado. As mudanças defendidas no Regimento Interno teriam efeito retroativo, atingindo até mesmo a votação, já iniciada, da reforma da Previdência. Nesse aspecto, no entanto, o governo vai enfrentar divisão dentro de sua própria base de apoio. Há resistências no PMDB e no PPB. Duplo casuísmo A oposição protesta. O deputado José Genoino (PT-SP) considera a questão um "duplo casuísmo". "Nem na ditadura se mudaram as regras do Parlamento durante uma votação. Além disso, acabar com o DVS é decretar o fim da atividade da minoria no plenário", disse. Atualmente, as emendas são aprovadas ressalvados os pontos polêmicos por meio de destaques. Cada destaque exige uma nova votação. Quem quiser manter o ponto destacado como originalmente consta do projeto aprovado é que tem de reunir 308 dos 513 votos da Câmara. O relator da reforma administrativa, deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), havia marcado a leitura de seu parecer para o dia 10. Mas os governistas decidiram só iniciar a votação depois da alteração do DVS após descobrirem que a oposição já estava preparando cerca de 300 destaques à emenda. Previdência Na reforma da Previdência, o governo conseguiu aprovar o texto global com 351 votos. Mas terá de votar novamente os pontos destacados, que chegam a cerca de 50. O problema é que o governo já detectou dificuldades em sua própria base de apoio. Os líderes governistas não têm certeza sequer se conseguirão manter o número suficiente de deputados no plenário para enfrentar as seguidas votações e garantir a continuidade de aprovação dessa emenda constitucional. Na primeira votação, o governo montou uma operação de guerra para obter o quórum de 492 deputados em plenário, número considerado necessário para garantir a aprovação de um tema considerado polêmico. Os líderes governistas marcaram para o dia 9 uma reunião para chegar a um consenso sobre a mudança no DVS. Inocêncio Oliveira defende que um destaque só vá para votação depois que a maioria dos deputados concordar. Como o governo tem a maioria, a oposição só conseguiria colocar em votação um destaque com o aval de, pelo menos, parte dos governistas. A outra opção em análise seria limitar os destaques de acordo com o tamanho das bancadas dos partidos na Câmara. "Congresso fechado" "Sem o DVS o Congresso está virtualmente fechado", reagiu o líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ). "O DVS é o massacre da maioria", reclamou Inocêncio. Segundo o pefelista, uma pequena parte dos deputados acaba obrigando a maioria a confirmar seus votos a cada destaque. O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), disse que os destaques anulam os projetos que recebem a maioria dos votos. "O parecer do relator Michel Temer (PMDB-SP) não existe mais, está anulado pelos destaques", afirmou Santos. Texto Anterior: Imposto da saúde poderá ficar para 97 Próximo Texto: Oposição deixa negociações e protesta em nota Índice |
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