São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Fleury acusa BC pela crise no Banespa

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho (PTB) levou ontem documentos ao Senado para sustentar que a intervenção no Banespa, no último dia útil de 1994, foi precipitada por supostas motivações políticas do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes -filiado ao PSDB.
Fleury, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos, explorou contradições entre declarações de Gomes e entre atos do Banco Central no Banespa. A comissão vai convidar Ciro a depor.
Segundo o ex-governador, o Banespa não estava quebrado na data da intervenção, último dia útil do ano. Para comprovar sua tese, Fleury exibiu balanço feito pelos interventores do BC, datado de maio de 95, considerando o patrimônio do banco positivo em R$ 1,7 bilhão no dia da intervenção.
Motivo: a dívida do governo paulista junto ao seu banco, então de R$ 9 bilhões, não estava atrasada a mais de 60 dias no dia da intervenção. Deveria, portanto, ser considerada como um crédito normal.
Em outro documento exibido por Fleury, os diretores do BC Cláudio Mauch e Alkimar Moura orientaram os interventores, em agosto, a considerar a dívida paulista como atrasada no balanço, "independentemente do prazo".
Inadimplência
Os diretores disseram no ofício que os pagamentos por parte do governo eram "insignificantes". Mas em documento de maio, os interventores avaliavam que o governo não estava inadimplente na data da intervenção. Segundo Fleury, o BC foi motivado por orientação doutrinária contrária à existência dos bancos estaduais, que se aliou à suposta razão política de Ciro.
Segundo Fleury, em maio de 95, o "Jornal da Tarde" atribuiu a Ciro, então governador do Ceará, declaração segundo a qual o Banespa estava quebrado. O banco processou Ciro pela declaração.
Fleury relatou que em 13 de setembro de 94, na primeira semana de Ciro à frente da Fazenda, os bancos deixaram de operar com o Banespa no mercado. Isso levou o banco a recorrer ao Banco do Brasil e ao Banco Central.
No programa "Roda Viva", da TV Cultura, em setembro último, Ciro disse que determinou a intervenção no Banespa em sua primeira semana na Fazenda, segundo transcrição distribuída por Fleury.
A declaração contradiz a versão oficial do governo na data da intervenção, segundo a qual a medida foi decretada porque exatamente naquele dia o Banespa havia ficado sem dinheiro para honrar os seus compromissos.
Ciro Gomes disse à Folha, na época, que a intervenção foi "uma imposição legal".

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