São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Instituto não examinava água usada

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O diretor do IDR (Instituto de Doenças Renais) de Caruaru (PE), Bráulio Coelho, admitiu ontem em Recife (PE) que não realizava exames laboratoriais da água utilizada pela clínica para hemodiálise.
A análise é obrigatória e deveria ser feita quatro vezes por ano, segundo a legislação que normatiza a atividade no país. "Foi talvez nossa única falha", afirmou Coelho, em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembléia Legislativa, instalada anteontem para investigar o caso. A água, usada no processo de filtragem do sangue dos doentes renais, teria transportado a substância que intoxicou os pacientes.
Segundo o secretário-adjunto da Saúde do Estado, Claudio Duarte, a não-realização dos exames pode acarretar a "cassação definitiva" do alvará de funcionamento do IDR, que está interditado. "Não há como afirmar, porém, que a análise evitaria a contaminação e a morte, até hoje (ontem), de 30 ex-pacientes do hospital", afirmou Duarte. O que há de fato é que o IDR descumpriu uma legislação."
'Acidente'
Coelho classifica a intoxicação dos ex-pacientes como "um acidente lamentável, que fugiu de qualquer controle da máquina e do homem". O diretor do IDR negou que tenha omitido a morte de 12 pessoas ao comunicar o problema à secretaria apenas em 6 de março.
Os primeiros doentes a morrer, disse, apresentavam "sintomas comuns" aos pacientes que submetem ao tratamento de hemodiálise -como dor de cabeça, náuseas e vômitos. "Enviamos mensalmente à Secretaria da Saúde documentos com o controle das mortes e a entrada de novos pacientes no período", afirmou o diretor.
Coelho suspeita de que resíduos de cloro contidos no carro-pipa que abasteceu o hospital possam ter se associado a materiais orgânicos, dando origem à substância tóxica. A água que teria contaminado os pacientes, segundo ele, foi "usada totalmente" e não jogada fora, como acredita a secretaria.
Ontem morreu a 30ª vítima da hemodiálise, Nerivânia Xavier, 25, em Recife. Ela fazia hemodiálise no IDR e passou mal durante o Carnaval. Foi levada para Recife no dia 20 de março, já em estado grave.

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