São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Autor se funde a personagem

DA REDAÇÃO

A seguir, a continuação da conversa entre os diretores César Brie e Cacá Rosset sobre Alfred Jarry.
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Folha - Alfred Jarry tinha 23 anos quando a peça estreou.
Cacá Rosset - A primeira versão do texto ele fez aos 13 anos. Chamava-se "Os Poloneses" e era inspirado em um professor odiado pelos alunos. Depois ele fez "Ubu Rei", "Ubu Cornudo", "Ubu sobre a Colina" e "Ubu Acorrentado". Jarry se confunde com o personagem, que o acompanha a vida inteira. Era viciado em éter e absinto. Era um tipo muito exótico, pescava a própria comida no Sena. Seu último pedido em vida foi um palito de dentes. Como se diz?
César Brie - (ri) "Escava dientes". Não sabia disso. Você adaptou "Ubu Rei"?
Rosset - Usei como estrutura o "Ubu Rei", mas coloquei a cena em que ele anda com a consciência na mala velha coberta de teias de aranha porque ele usa pouco a consciência, que está em "Ubu Cornudo". O personagem tem esse caráter episódico, como o das histórias em quadrinhos, né?
Brie - Sim. Usamos o mesmo sistema. Temos uma cena dos diferentes tipos de sapatos para pisar em diferentes tipos de merda, de "Ubu Cornudo". Também usamos trechos de "Ubu Acorrentado". Mas "Ubu Rei" é a melhor.
Rosset - Sem dúvida. E Jarry tem uma coisa fascinante que é a patafísica, a ciência das soluções imaginárias, que estuda as exceções do universo, ao contrário das ciências formais, que estudam as regras. Isso teve influência muito grande nos dadaístas e surrealistas.
Brie - Jarry era muito difícil, as pessoas se afastavam dele.
Folha - Por quê?
Brie - Por seus problemas com álcool, drogas e sua loucura genial.

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