São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Clichês são maior trunfo do policial "Copycat"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Se "Copycat - A Vida Imita a Morte" tivesse como subtítulo "a arte imita a arte", ninguém ia se espantar. Neste novo carbono de "O Silêncio dos Inocentes", Holly Hunter faz o papel da detetive (que no original cabia a Jodie Foster.
Quem pode ajudá-la nesta tarefa é Sigourney Weaver, psicóloga criminal que certa vez quase foi assassinada por um maníaco. Hoje ela vive em reclusão e não quer se meter em encrenca.
Já se vê por aí que Sigourney faz, com ligeiras modificações, o papel que foi de Anthony Hopkins em "O Silêncio". Certo, ela não é canibal, como era Hopkins, nem uma criminosa. Mas o essencial da situação é o mesmo. Trata-se de um confronto entre duas mentes que se conhecem muito bem, mediada por alguns personagens encarregados de conduzir a parte física da ação -Holly e seu parceiro. É sabido que a história se repete como farsa. Por isso, "Copycat" dispensa-se de esforços de imaginação: o importante é colocar o espectador na confortável situação de estar pisando um terreno já conhecido. De, apenas, reconhecê-lo.
Se o filme não aspira à originalidade, o criminoso Daryll Lee (Harry Connick Jr.) também não: sua obsessão é reproduzir crimes célebres. O clichê vira um trunfo; forma e fundo se equivalem.
É claro que "Copycat" coloca algumas questões, embora elas sejam paralelas ao filme. Por exemplo: o que motiva a obsessão atual dos EUA por criminosos seriais? Quase não passa semana sem que um deles apareça filme.
Nos casos bem-sucedidos, eles renovam a tradição do policial como gênero lógico (cultivado por Edgar Poe, Conan Doyle ou G.K. Chesterton, entre outros): colocam em evidência o trabalho intelectual que existe no desvendamento de um crime.
Em casos rotineiros, como "Copycat", o que conduz a ficção é uma espécie de amoralidade intrínseca: a demonstração de que a existência humana não necessita de princípios.
O essencial, nela, são duas coisas: a obstinação, a necessidade de vencer (setor detetive) e aparecer na mídia (setor criminoso). São ambições contraditórias na aparência e complementares, na essência.
Por fim, não custa lembrar que o filme é assinado por Jon Amiel, que fez em 1993 o constrangedor "Sommersby - O Retorno de um Estranho".
Aqui, pelo menos consegue filmar os clichês do gênero. Ninguém dirá que não é um progresso.

Filme: Copycat - A Vida Imita a Arte
Produção: EUA, 1995
Direção: Jon Amiel
Com: Sigourney Weaver, Holly Hunter e Dermot Mulroney
Estréia: hoje, nos cines Olido 1, West Plaza 3, Morumbi 1 e circuito

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