São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Ação em "Carrington" é pura representação

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Há nos personagens interpretados pela atriz britânica Emma Thompson um desconfortante tom de solenidade. Uma gravidade que em "Carrington" se torna determinante para o filme.
"Carrington" é o sobrenome da pintora inglesa Dora, que pertenceu ao lendário grupo de Bloomsbury, composto de intelectuais e artistas (como a escritora Virginia Woolf) que pretendiam uma alternativa à moral vitoriana do início do século.
Sua história é a própria paixão pela idéia de liberdade, a grande- e radical- busca de todos seus companheiros. Ela procura se desembaraçar de todos os padrões ao seu redor, dos estéticos aos sexuais. Algo que, ironicamente, se transforma em sua perdição.
A vida de Carrington, no filme de Christopher Hampton, é essencialmente a história de sua maior transgressão: a paixão pelo escritor e ensaísta Lytton Strachey que, para a infelicidade de Carrington, sentia atração por homens.
O atrito criado por seu desejo, sempre em embate com o homossexualismo de Strachey, é o tema usado pelo diretor para mostrar, ao mesmo tempo, a trajetória de uma paixão e um painel social.
Mas esses dois motivos não resistem ao tratamento dado no filme. Em tudo existe um respeito excessivo, uma obsessão pelo equilíbrio e pela formalidade que termina por afogar Carrington, e a faz vítima de uma equivocada idéia de Inglaterra: a dos cartões postais.
E é nesse clichê que se repete- "os intelectuais", "o amor livre", "o homossexualismo afetado- que a figura de Emma Thompson se torna um caso exemplar.
Sua Carrington não é ser humano, mas um triste personagem. E o filme se articula em torno desse dado limitante. Tudo é a mais pura representação. Em momento algum a entendemos e nem nos é oferecida essa chance.
A exceção é o ator Johathan Pryce, capaz de rir de seu Strachey e, assim, tornar vivo um filme que em tudo se assemelha a uma paisagem pintada por um artista sem grande talento. Muita vezes bela e equilibrada. E também rigorosamente inútil.

Filme: Carrington
Direção: Christopher Hampton
Com: Emma Thompson, Jonathan Pryce, Steve Waddington
Onde: Espaço Unibanco e Arouche

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