São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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PALHAÇADA

Uma certa esperteza política, o conhecimento das regras do jogo e uma parcela de vivacidade são ingredientes importantes para um bom político. Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, por exemplo, reuniam esses atributos. A manobra perpetrada pelo senador Gilberto Miranda para suspender o acordo do Banespa, porém, revela não as qualidades de um bom político, mas sim o que pode haver de pior em um parlamentar.
Miranda conseguiu a proeza de, com apenas dois senadores em plenário, suspender uma negociação que envolvia a totalidade dos senadores membros da Comissão de Assuntos Econômicos daquela Casa.
A estratégia de Miranda foi aproveitar o esvaziamento do plenário da comissão após o depoimento do diretor de Fiscalização do BC, Cláudio Mauch, para colocar em votação um requerimento do senador Osmar Dias, que pedia a formação de uma comissão especial para fazer uma auditoria "in loco" no Banespa, suspendendo a tramitação do acordo até que se chegue a uma conclusão. Como os senadores haviam assinado o livro de presença para ouvir o depoimento, em tese havia quórum para votar o requerimento.
Miranda chegou ao cúmulo de designar o senador Pedro Piva, principal interessado na aprovação do acordo, para acompanhar Mauch a uma sala onde daria uma entrevista coletiva. Piva, que diz que nem mesmo sabia da existência do requerimento, poderia ter evitado sua aprovação com um simples pedido de verificação de quórum. O cinismo de Miranda é escancarado: "O pessoal interessado no acordo dormiu", disse jocosamente o senador.
Embora consoantes com o regimento, manobras como a de Miranda apenas contribuem para desgastar ainda mais a já combalida imagem do Legislativo. E o senador não tem o direito de fazê-lo em prejuízo da imagem de um dos alicerces do Estado democrático de Direito.

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