São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Roxo, preto e cheio

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Descobri a fórmula para que algum cientista brasileiro ganhe, finalmente, o Nobel de Medicina. Basta que determine as razões pelas quais o saco dos presidentes brasileiros é colorido.
O de Fernando Collor, como se sabe, era roxo. O de Fernando Henrique Cardoso é preto, revela agora o seu amigo Sérgio Motta, que parece autoridade no assunto.
Deve haver alguma razão pela qual a Presidência provoca mudança na cor do saco. Pode ser um regresso à infância. Sabe-se que crianças, mesmo as mais branquelas, nascem com aquilo mais ou menos roxo.
Depois, evoluem para a cor natural determinada pela maior ou menor quantidade de melanina, o pigmento negro do corpo humano.
Vai ver que presidentes, em vez de evoluir, involuem, voltam a ser crianças. É uma boa tese. Todos eles demonstram uma alegria infantil ao exercer o poder.
Alguns especialistas norte-americanos, consultados via Internet, sugerem que pode haver a seguinte explicação: o sangue de presidentes, em vez de fluir para o rosto, desce para o saco, em determinadas circunstâncias que, no vulgo, causariam rubor facial.
Seria a versão moderna do antigo "esconder as vergonhas". Como ninguém, exceto Sérgio Motta, vê a cor do saco do presidente, ele pode ficar ruborizado sem que o público perceba.
Há ainda a hipótese de que se trate do fenômeno popularmente conhecido como "sangue pisado". Vai ver que os marimbondos do Sarney picaram o presidente diretamente no saco. Aí é grave porque, com o tempo, o local afetado amarela.
Talvez se explique por aí o impeachment do Collor: não fica bem para qualquer país ter um presidente que amarela, mesmo que seja só no saco.
Aproveitei para dar uma olhada no meu. A cor continua a mesma, mas o tamanho...

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