São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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FHC, reeleição e pudor

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Fernando Henrique Cardoso recebeu muita gente no Palácio do Planalto nesta semana. Alguns, que já aprenderam a interpretar os desejos do presidente, garantem que FHC só pensa em reeleição.
Para consumo externo, continua a valer a versão antiga do Palácio do Planalto. FHC não quer se envolver e deixará o Congresso tocar o assunto.
Na prática, o presidente tem incentivado os seus seguidores mais entusiasmados com a possibilidade de aprovar, ainda neste primeiro semestre, a emenda da reeleição.
A lógica presidencial não se escora apenas no interesse pessoal de FHC, que deseja permanecer mais quatro anos no poder. Há uma estratégia mais imediata embutida na nova investida pela reeleição.
Deixar para o ano que vem a decisão não seria uma catástrofe, dizem assessores palacianos. Os cerca de 5.000 prefeitos que serão eleitos em 3 de outubro são, desde sempre, potenciais aliados do Planalto.
Esses prefeitos que tomam posse no ano que vem poderão pressionar seus deputados aliados no Congresso para aprovar a reeleição em 97.
Ocorre que existem, hoje, 5.000 prefeitos interessados no tema. Muitos deles, como Paulo Maluf, já completamente domesticados.
Se a reeleição não passar neste ano, inclusive para Maluf ficar mais quatro anos na Prefeitura de São Paulo, FHC terá um inferno oposicionista pela frente. É isso que ele quer evitar.
Quando José Sarney quis ficar cinco anos na Presidência, e não quatro, FHC acabou montando o seu próprio partido.
Hoje, o presidente finge não estar interessado no assunto. Nos bastidores, articula para ficar mais quatro anos. Por pudor, FHC nega envolvimento nessas articulações.
Depois do festival de fisiologismo da CPI dos Bancos, era o caso de o presidente perder esse tipo de vergonha. Afinal, se o presidente não fala, outros falam por ele.

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