São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Viva a união dos metalúrgicos

VICENTE PAULO DA SILVA

A partir das 18h de hoje os associados e associadas ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que trabalham em Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra farão uma assembléia muito importante na sede regional Santo André.
Além da necessidade de debatermos questões importantes como aumento nos salários ou a resistência às demissões, entre outros pontos, temos que discutir neste momento, prioritariamente, um outro assunto. Vamos tratar e votar entre duas propostas.
Uma delas, defendida por mim, por Lula, pela esmagadora maioria dos diretores, lideranças e ativistas do sindicato e por várias figuras de expressão na vida dos trabalhadores, como Celso Daniel, João Avamileno, Erundina, Mercadante, Meneguelli, Suplicy, frei Betto, José Dirceu e tantos outros, é manter o sindicato unificado.
A unificação foi resultado de anos de discussão e preparativos. Foi uma resposta da classe trabalhadora ao processo de reestruturação neoliberal, que gera desemprego, arrocha os salários e golpeia direitos sociais e sindicais.
A unificação representou, além do mais, uma bela demonstração da elevada consciência dos trabalhadores do ABC, que abriram mão de interesses menores em prol dos objetivos maiores da classe trabalhadora.
A outra proposta, defendida por um grupo de 14 ou 15 diretores (numa direção composta por 64 membros), é pela separação. O que mais me entristece na proposta desses companheiros é saber que ela é uma resposta, um gesto emocional, por terem perdido, para novos companheiros da própria empresa, uma convenção democrática que reuniu 508 trabalhadores da Cofap.
Um processo que se caracteriza por uma prática extremamente democrática da direção e militantes do sindicato, pois sabemos que o estatuto não obriga à realização de convenções. Por isso, parabéns à diretoria do sindicato!
Se esse grupo de companheiros estivesse a favor da separação com argumentos serenos e consistentes, é lógico que proporcionar-se-ia um profundo debate no sentido da solução dos problemas, visando fortalecer a unificação, pois essa é uma tendência natural para o futuro do movimento sindical.
Na vida sindical é preciso aprender a conviver com as derrotas que a democracia traz. Hoje perdemos uma disputa. Amanhã vencemos. Qual dirigente sindical nunca perdeu uma votação?
Se esse grupo de companheiros defendesse para valer a separação, certamente teria apresentado essa proposta no seminário que a diretoria do sindicato realizou em Atibaia (dezembro/95) para avaliar o mandato e planejar o processo sucessório na entidade.
Pelo contrário, fortaleceram a própria unificação em suas manifestações. O clima do seminário foi de amplo consenso, companheirismo e confraternização, sendo aprovadas, por unanimidade, tanto a indicação feita pelo companheiro Guiba, para que Luiz Marinho encabeçasse a nova direção, como a definição das regras para renovação e escolha dos integrantes da chapa.
Lamento a reação nervosa frente a um revés natural. Lamento que tenham virado a mesa, abrindo mão de concepções sindicais e políticas que defenderam por tantos anos.
Reitero o apelo para que esses companheiros suspendam essa postura insensata, voltem a atuar conosco nesse processo tão importante e exemplar das convenções a partir das fábricas e transformem todas as suas queixas, mágoas e reivindicações (até porque muitas delas podem ser justas) em propostas para aperfeiçoar e tornar ainda mais forte o sindicato unificado. Defenderemos a manutenção do sindicato unificado nessa assembléia e em quantas outras se fizerem necessárias.
Por isso conclamo todos os metalúrgicos dessas quatro cidades a reforçarem a assembléia de hoje para ouvir argumentos de ambas as posições, sem temer o resultado das votações. A democracia é um bem precioso para a classe trabalhadora. Se queremos construir um Brasil democrático, precisamos começar dando o exemplo em nossas próprias casas.
A democracia ensina que a vontade da maioria deve ser respeitada e que suas regras não podem ser jogadas no lixo, ao sabor do descontrole emocional que se segue a uma derrota inesperada.

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