São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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Operadores de Furnas temem demissão

DA FOLHA NORDESTE

Os cinco operadores que estavam na sala de controle da usina de Furnas, em Alpinópolis (MG), na última terça-feira, quando ocorreu o blecaute que afetou 20 milhões de pessoas em quatro Estados e Distrito Federal, estão com medo de ser demitidos.
Eles temem ser responsabilizados pelo incidente. Dos cinco operadores, a Folha conseguiu identificar dois: Geraldo Magela, encarregado do grupo naquele dia, e Vagner Oliveira Silva, funcionário da usina há mais de 20 anos.
Ontem, eles passaram o dia reunidos, preparando um relatório sobre o blecaute. O documento vai servir como base para a direção da empresa apontar as causas do incidente.
No relatório, segundo o Sindicato dos Eletricitários de Furnas, os operadores vão fazer uma avaliação técnica sobre os fatores que teriam provocado a queda de energia que gerou a pane.
Pacto de silêncio
"A pressa da direção da usina em apontar um culpado para o incidente deixou os operadores preocupados e receosos. Por isso eles optaram pelo silêncio", declarou Ataíde Vilela, presidente do sindicato dos eletricitários.
No dia do blecaute, a direção da usina informou que uma falha humana teria provocado a queda de energia. A direção chegou até a afirmar que já sabia quem era o responsável pelo erro.
Somente anteontem, o chefe do departamento de produção da usina de Furnas, Armando Cosenza, 47, admitiu que uma falha técnica pode ter causado o blecaute.
Segundo ele, o dispositivo de segurança que dispara em caso de falhas na sala de operações não foi acionado.
O engenheiro responsável pela equipe de operações da usina de Furnas, Emílio José de Pádua Piantini, 41, também admitiu anteontem que o dispositivo falhou na hora em que os operadores faziam o remanejamento do sistema da usina.
"Se o alarme fosse acionado, o operador teria percebido que a manobra estava incorreta e poderia corrigi-la", afirmou.
"Todas essas informações precipitadas deixaram meu marido muito perturbado. Ele trabalha na usina há mais de 20 anos e nunca havia presenciado acidente semelhante", afirmou Vânia Silva, mulher do operador Vagner Oliveira Silva.
Ela relacionou o blecaute ao caso do acidente que matou os Mamonas Assassinas. "Todo mundo se apressou em culpar o piloto, mas até agora nada foi provado contra ele."

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