São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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O desemprego e o Congresso

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - As cenas de camelôs apanhando em São Paulo, anteontem, são um exemplo acabado do desemprego que o presidente Fernando Henrique Cardoso nega existir.
Uma mulher, chorando, dizia não ter mais onde trabalhar. Cruel. O desemprego, já se disse, é o mal deste final de século.
Talvez FHC negue que o desemprego seja um problema no país da mesma forma que nega estar se envolvendo na aprovação da sua reeleição. É isso o que se depreende ao observar as ações recentes do ministro do Trabalho, Paulo Paiva.
Paiva, por determinação de FHC, percorreu o país inteiro nos últimos dois meses e preparou um projeto de lei para legalizar contratos de trabalho temporários mais flexíveis.
Se aprovado, o projeto permitirá a empresas contratarem até 20% de seus funcionários por meio de contratos temporários. Isso representará para o empregador uma despesa até 42% menor sobre aquilo que gastava além do salário pago.
Para o trabalhador, as desvantagens são pequenas. O Fundo de Garantia, por exemplo, receberá depósitos menores que os usuais. Mas a contrapartida vale a pena: haverá emprego.
Paiva reconhece que é apenas uma iniciativa "singela". Não vai resolver o desemprego. Mas, é um passo. O problema, no caso, é que esse passo depende do Congresso.
Cabe à Câmara dos Deputados analisar e votar o projeto de lei preparado por Paulo Paiva.
Os congressistas têm à sua frente uma oportunidade de ouro para demonstrar que estão sintonizados com o mundo real. Podem aprovar o projeto em tempo recorde, fazendo uma lei que beneficiará diretamente milhões de brasileiros.
Mas essa ação só poderá ser cobrada do Congresso a partir do dia 8 de abril. É que, até lá, os parlamentares estão de folga. Ninguém é de ferro.

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