São Paulo, sábado, 30 de março de 1996 |
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O roxo e o preto
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - O ministro Serjão sabe das coisas. Ele nunca se conformou com a afirmação atribuída a Collor a respeito da cor de uma certa parte do corpo ex-presidencial. Guardou durante anos o seu desejo de mostrar serviço e provar mais uma vez que é mesmo o número um em matéria de puxa-saquismo.Entre os serviços que lhe ficaremos devendo temos agora mais esse: sabemos a cor daquilo. Fernando Collor foi mais explícito, não consentiu que nenhum puxa-saco se antecipasse e comunicou à nação a cor do próprio. Antes que FHC fizesse o mesmo (no próximo escândalo, seria provável que FHC imitasse Collor mais uma vez), Serjão assumiu a "pole-position". Ele é quem sabe dessas coisas. Como sabe -é tema para especulação. Desprezando-se a informação por inútil, sobra do desabafo ministerial a repetição de um equívoco. Não foi o presidente quem tomou a iniciativa de revelar o escândalo do Nacional. Em outubro, ele soube da maquiagem nos balanços, da situação criminosa em que o banco se encontrava. Nada fez. Sinceramente, acredito que não tenha tomado qualquer atitude por causa dos netos. Ficou quieto, omitiu-se porque foi beneficiário direto das contribuições recebidas e a receber para a próxima campanha eleitoral. Não tenhamos dúvida: a campanha da reeleição vai custar caríssimo ao país, direta e indiretamente. O empresariado (incluindo os bancos), os especuladores de fora e os aproveitadores de dentro, todos serão intimados a pingar no pires que lubrificará a campanha nos dois níveis: congresso e ruas. No custo indireto, o país será loteado em escala que nem são Francisco, em seu desvario místico, poderia prever. Se para sufocar a CPI o governo neoliberal perdeu a compostura, para reeleger FHC perderá qualquer escrúpulo -dos poucos que ainda conserva. Realmente, alguma coisa o presidente tem de preto. Mais cedo ou mais tarde, Serjão dará detalhes. Texto Anterior: O desemprego e o Congresso Próximo Texto: Amar é perdoar Índice |
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