São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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O peso dos números

MARCELO LEITE

No momento em que redijo esta coluna, na noite de quinta-feira, 125 cartas aguardam a vez sobre a mesa. Algumas chegaram há uma semana, mas não puderam ainda ser lidas e respondidas. Peço desculpas aos leitores pela demora, mas acredito poder explicá-la -ainda que não justificá-la- com os números do quadro à direita.
Dois fatores levaram a uma nova explosão do número de manifestações ao ombudsman, projetando-o para 1.663 no bimestre (cerca de 60% mais que no anterior):
1. Os problemas com a implantação do novo projeto gráfico do jornal e com a operação do Centro Tecnológico Gráfico-Folha (CTG-F);
2. A abertura de um novo canal de comunicação, no caso o correio eletrônico via Internet (endereço: ombudsman@folha.com.br).
Nos dois casos, a data-chave foi 3 de março. Nesse dia teve início a operação Cor Total, tão cheia de percalços para os leitores, e foi também tornado público o e-mail do ombudsman. O bastante para catapultar o atendimento a uma inadministrável cifra de 40 leitores por dia útil.
Avaliação trimestral
Apresento esses dados porque representam o aspecto mais notável das estatísticas coletadas. De ora em diante, as cifras de atendimento alimentarão periodicamente colunas de análise do relacionamento ombudsman/Redação e da qualidade do jornal.
Para quem não gosta de números, uma boa notícia: as prestações de contas passam a ser trimestrais, e não mais bimestrais. É a mesma periodicidade de relatórios que o ombudsman apresentará à Direção de Redação.
O quadro acima também será apresentado de três em três meses. Terá sempre a mesma disposição, para facilitar a comparação e formar uma série histórica.
Foi dado nele destaque especial para indicações de erros de informação, que afetam diretamente a qualidade editorial. É preciso esclarecer, porém, que 138 reclamações não significam 138 erros, pois nem sempre o leitor tem razão, e mais de um pode apontar a mesma falha. Mas são 138 leitores que desconfiam de alguma informação da Folha.
Outro destaque é o chamado desvio de função. Neste caso, o que está em causa é a qualidade do serviço do ombudsman. Quanto maior for a percentagem, mais de seu tempo estará sendo tomado por uma tarefa que deveria ser realizada pelo Serviço de Atendimento (Diretoria de Circulação e Marketing). No caso de fevereiro/março, quase um quarto do total.
Atenção, colunista à frente
Um dado que chama a atenção é a proeminência dos colunistas na Folha. Eles compõem o setor do jornal que mais atraiu a atenção dos leitores (121 deles). Uma campeã é Marilene Felinto, que com um único texto conseguiu provocar a ira de 18 pessoas do interior de São Paulo (ou 15% do total do bimestre).
Essa liderança numérica corrobora a tese, já enunciada nesta coluna, de que o peso relativo dos colunistas na Folha é excessivo. Chamam mais a atenção -talvez porque são por demais numerosos- do que editorias inteiras.
Isso quando não têm o único e claro objetivo de, precisamente, chamar a atenção (outros se destacam pela qualidade da informação e da interpretação que fornecem). É um vício cada vez mais encontradiço na imprensa acreditar que a medida do sucesso esteja na quantidade de calor, não de luz, que um jornalista consegue produzir.
Sem PAS nem jogos noturnos
O segundo colocado na classificação das editorias/áreas é Cidades, responsável pelos cadernos São Paulo (edição SP/DF) e Cotidiano (edição Nacional). Foram 110 registros.
Além de cobrir setores muito diversificados e de grande peso na vida cotidiana (saúde, educação, trânsito, comportamento etc.), lida com assuntos eticamente explosivos, como crimes. A publicação de fotos de cadáveres, por exemplo o de uma moça assassinada no bairro chique do Pacaembu, sempre provoca protestos.
Outra reclamação que tem aparecido com frequência diz respeito ao PAS, plano em implantação pela Prefeitura de São Paulo que está virando o atendimento médico de pernas para o ar. É certo que muitas queixas chegam de funcionários afetados, que poderiam estar reagindo por corporativismo, mas há consenso de que o jornal não está conseguindo fazer uma avaliação profunda e objetiva desse vendaval.
Depois de Cidades vem a editoria de Arte, com 101 registros. A explicação é fácil e rápida: foi a responsável pela introdução do novo e conturbado projeto gráfico. Depois, caderno Brasil (57), compreensível em se tratando das questões centrais do país.
Como lanterninha entre os cinco campeões aparece Esporte. Boa parte das 42 reclamações dizem respeito à falta de resultados de jogos de futebol da véspera. Eles já não eram publicados na edição Nacional, fechada (concluída) normalmente às 20h30, mas a deficiência contaminou desde o dia 3 também a edição SP/DF.
Esta passou a ser fechada mais cedo, entre 21h30 e 22h, também por causa das dificuldades no CTG-F. Quando os jogos acabam, os textos são atualizados e acabam alcançando a maior parte da tiragem da SP/DF. Os fãs do futebol que ficam sem a notícia que mais lhes interessa, no entanto, não perdoam o jornal.

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