São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Supersticiosas levam até pedra no sutiã

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Carregar pedras da sorte no sutiã, acender velas com o nome do pretendente na base e jogar água no corpo com ervas antimau-olhado-da-outra funciona.
Quem garante são mulheres que não acreditam em bruxas, mas na "força do pensamento". O kit simpatia inclui ainda patuás, números da sorte, cores e dias da semana.
"Levo sempre no sutiã cinco pedras da sorte", diz a consultora financeira Andréa de Lamare, 38. "Tem a do amor (no sentido universal), a que filtra os maus fluidos, a que favorece os negócios, a da saúde e a da transmutação (para limpeza energética)."
Ela se diz muito "espiritualizada" e garante que a pedra do amor "no sentido universal", por exemplo, atraiu muitos amigos do sexo masculino. "É um cristal de quartzo rosa, redondinho. Com ele, tenho sido muito paquerada", diz.
Andréa usa as pedras no sutiã por orientação de uma amiga. "Ela me disse que na bolsa não funciona. A pedra tem de estar em contato constante com o corpo", afirma.
Se a professora Heloísa Sanchez, 45, carregasse no sutiã tudo o que leva na bolsa, teria de usar manequim 50. "Tenho um gatinho chinês, que dá sorte, um sapinho da felicidade, um besourinho do amor e uma sodalita da paz", diz.
A deslanchada mística de Heloísa aconteceu tarde. "Aos 35 anos ainda estava solteira e não conseguia arrumar namorado", diz.
"Paquerava um cara havia cinco anos e uma amiga me ensinou a simpatia para conquistá-lo: coloquei três rosas em uma vasilha com água e mel, em noite de lua cheia, e ofereci ao cosmo."
Ela diz que foi atendida. "De repente, passamos de amigos a namorados", lembra Heloísa, que indicou a receita para a irmã. "Deu certo com ela também."
Para dar certo, segundo a esteticista Matilde Crispino, 52, a simpatia tem de contar com a força do pensamento. "Mesmo assim, essas intervenções do plano espiritual podem durar pouco."
Matilde não tem do que se queixar. Há dois meses o marido a deixou, por causa de uma briga, e voltou logo depois graças a uma "intervenção do plano espiritual".
"Acendi uma vela com o nome dele escrito sete vezes, a partir do pavio, e uma oitava na base. Coloquei sobre um pires virgem (sem uso), em cima de um montinho de açúcar, e deixei queimar até o fim. Ele voltou sem que eu precisasse pedir", conta.
A estilista carioca Anita Weinfeld, 46, também acredita na força do pensamento, mas não precisou acender velas para conseguir convencer um ex-namorado surfista a voltar de Saquarema (litoral fluminense) para o Rio, numa noite de réveillon.
"Eu estava brincando na beira da praia com um conjunto de alianças de ouro, enquanto ele pegava onda, e a água levou tudo. Na onda seguinte, milagrosamente, recuperei as alianças. Na mesma hora ele levou um tombo e quebrou o braço. Tivemos que voltar para o Rio."
A pintora Isabelle Tuchband, 27, tem motivos para temer pensamentos tão fortes. Há duas semanas ela foi procurada no ateliê por uma mulher que se dizia compradora e acabou sugerindo que o ambiente ali estava carregado.
"A 'cliente' veio com uma conversa de trabalho para tirar mau-olhado e eu descobri dias depois que ela era amiga da mulher do meu ex-marido. Na ocasião eu não sabia e dei o dinheiro: ela fez um trabalho a favor da outra e as coisas desandaram no ateliê."
Isabelle descobriu tudo isso depois de consultar duas tarólogas e um mestre de kung fu. "Ele receitou uma simpatia para afastar aquele peso" (leia depoimento).

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