São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Secretaria quer fazer matadouros municipais

DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria Estadual da Agricultura tem planos de construir 75 matadouros municipais até 1998 para combater o abate clandestino em São Paulo.
Os recursos necessários -R$ 3,5 milhões- viriam da privatização da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), segundo o secretário Antonio Cabrera, 35.
Ano passado, a secretaria construiu ou reformou 6 matadouros dos 25 previstos em seu programa. São os que oferecem condições de higiene entre os 400 matadouros municipais no Estado, segundo a secretaria.
Eles ficam em São José do Rio Pardo, Garça, Ouro Verde, Lucélia, Barbosa e Auriflama. Abatem 30 bovinos e 6 suínos, em média, por semana.
Começa aí a polêmica sobre os matadouros municipais -a escala de produção.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) não recomenda esse tipo de obra por considerá-la antieconômica e anti-sanitária.
Escala e rigor
"Um matadouro desse porte não pode ser rigoroso na higiene porque não tem escala de produção", diz José Christovam Santos, professor aposentado da Unicamp.
Ele ilustra sua tese com dois exemplos. Um abatedouro que mate dez animais ao dia, se tiver dois deles sequestrados pela inspeção sanitária, torna-se inviável economicamente.
Já uma instalação com 400 abates diários não será afetada com a condenação de dez reses. A solução que permitiria essa escala é a regionalização dos abates, para Santos.
"É criminoso dar recursos para abatedouros municipais porque eles são piores do que os clandestinos", diz. "O consumidor acha que está comendo carne fiscalizada e não está. É moeda política, não a solução para a carne clandestina".
Francisco Cavalcanti de Almeida, 57, diretor do Departamento de Defesa Agropecuária do Estado, disse à Folha que os prefeitos não permitem fiscalização nos matadouros municipais porque não querem arcar com o prejuízo dos animais condenados por doenças.
Cabrera afirma que a proposta de matadouros regionais "é belíssima" mas não há escala de produção que possa sustentá-la.
"Não dá para fugir do matadouro municipal porque essa é a realidade em São Paulo", diz ele.
"Aqui, com raras exceções, não há criação intensiva. O criador não consegue encher um caminhão de gado para levar ao matadouro".
Lei frouxa
Cabrera acha que a solução é cobrar rigor na fiscalização dos abatedouros municipais. "A lei que descentralizou a fiscalização é boa, mas é frouxa em penalidades. Tinha de ser mais rigorosa."
O problema com o rigor, segundo o secretário, é que o Estado tem só 38 veterinários para inspecionar 196 estabelecimentos, 17 dos quais são matadouros de gado.
Cabrera diz que está tentando transferir técnicos para a área, mas os funcionários bloquearam seu plano na Justiça.
Pedro Eduardo de Felício, professor da Unicamp, acredita que matadouros municipais não vão conseguir absorver o abate clandestino por uma razão econômica: os prefeitos não vão querer arcar com o prejuízo do gado doente.
"Já que o governo insiste em matadouro municipal, a solução seria criar um fundo para indenizar esse gado", propõe.
Segundo ele, não existe indenização nos EUA e na Europa porque lá não existe abate clandestino. "Aqui existe e o governo precisa zelar pela saúde pública."

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