São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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O milionário segredo das marcas

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você já se imaginou lucrando com o sucesso da Coca-Cola ou do Omo, dois produtos cujos nomes estão invariavelmente entre os mais citados pelos consumidores nas pesquisas sobre as marcas mais populares?
Essa possibilidade pode não ser muito remota. Pode estar próximo o dia em que investidores vão aplicar seu dinheiro em marcas, com grandes possibilidades de um retorno interessante.
Essa é a proposta minuciosamente estudada no livro "O Império das Marcas", escrito em conjunto por Nelson Blecher (jornalista especializado em marketing e publicidade, repórter especial da Folha até o final do ano passado) e José Roberto Martins (administrador de empresas com 20 anos de experiência em economia internacional e finanças).
O livro trata com desenvoltura de duas áreas da economia que raramente andam juntas, marketing e finanças. Poucos são os especialistas de um setor que entendem o jargão do outro segmento e vice-versa. É especialmente raro um profissional da área de marketing que compreenda os meandros das operações financeiras.
A tese defendida por Martins e Blecher é de que é possível -e, mais do que isso, desejável- que se combinem finanças e marketing para o aproveitamento financeiro do patrimônio empresarial representado pelas marcas.
Com a globalização da economia, a necessidade de levantar capital aumentou ainda mais. As companhias precisam crescentemente de recursos para investir em tecnologia, pesquisa de novos produtos, marketing e expansão de atividades para outros países.
No caso específico do Brasil, com a elevada taxa de juros, a possibilidade de se encontrar uma nova fórmula para a captação de recursos soa ainda mais atraente.
Até agora, porém, poucos empresários tiveram a idéia de aproveitar o que é, em muitos casos, o bem mais precioso das empresas: suas marcas.
É muito difícil a avaliação de quanto vale uma marca. Seguindo critérios como liderança de mercado, tendência de vendas, internacionalização, a revista "Internacional Financial World" considera que as 20 marcas mais conhecidas em todo o mundo valem mais de US$ 259 bilhões.
Só o valor da marca Coca-Cola seria próximo de US$ 40 bilhões. Ou seja, se houvesse uma empresa em condições de comprar a Coca-Cola, teria que pagar US$ 40 bilhões só pela marca.
A proposta estudada no livro é de que seria possível emitir títulos tomando como base, como garantia, exatamente o valor das marcas. Um exemplo muito simplificado seria o grupo Unilever (conhecida como Gessy-Lever, no Brasil) lançar papéis oferecendo como garantia de resultados a sua marca mais famosa, o sabão em pó Omo.
O lançamento desses papéis, já batizados de "brand bonds", não seria, porém, uma operação fácil. As primeiras operações, exatamente por serem uma novidade no mercado financeiro, exigiriam uma série de providências, a começar pela necessidade de se "criar" uma fórmula para definir, de forma precisa, o valor de uma marca.
Se deve haver grande interesse da parte das empresas em lançar papéis com base nas suas marcas, também haveria mercado para sua colocação junto a investidores, acreditam os autores do livro. Para os investidores, uma das maiores vantagens seria a estrutura simples da operação e sua transparência.
O livro faz algumas sugestões bem concretas sobre como deveriam ser feitos os lançamentos dos "brand bonds" e as condições desses títulos em termos de taxas de juros e prazos. Ou seja, ensina o caminho para as empresas que quiserem ser pioneiras nessa nova área.
Embora trate de um tema que às vezes esbarra em tecnicalidades do mercado financeiro, "O Império das Marcas" é de leitura fácil, especialmente porque vem ilustrado por um grande número de casos interessantes sobre empresas e suas marcas.

LANÇAMENTO: "O Império das Marcas" será lançado no dia 2 de abril, a partir das 19h, na biblioteca social do Club Athletico Paulistano (r. Honduras, 1.400, São Paulo, tel. 011/280-8633). O preço do livro no evento será R$ 35,00.

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