São Paulo, domingo, 31 de março de 1996 |
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O desaparecimento das aves
VANESSA DE SÁ
Catástrofe ecológica? Não para uma equipe anglo-americana, que publicou este mês a previsão na revista britânica "Nature". "Estudamos o caso da Mata Atlântica porque a maioria dos estudos que procuram estimar as taxas de extinção como resultado da atividade humana se concentra na relação espécie-área. Procuramos mostrar que pode haver outra alternativa", disse à Folha Andrew Balmford, da Universidade de Sheffield (Reino Unido). A idéia da relação entre a área e o número de animais de uma espécie não é nova: quanto maior a área considerada, maior o número de espécies que caberiam ali. Quanto mais destruída, mais espécies tenderiam a desaparecer. Segundo Balmford, a maior crítica a essa idéia é que, na prática, poucas extinções foram registradas em áreas muito destruídas, como é o caso da Mata Atlântica. Para o cientista, haveria três possíveis explicações para esse fenômeno: 1) A idéia está errada. As espécies sobrevivem, mesmo que seu hábitat original se perca. 2) A idéia está certa, mas, devido ao fato de o desmatamento ter começado há séculos, muitas espécies foram extintas antes de cientistas terem registrado sua existência. 3) A idéia está certa. Se o hábitat de uma espécie é destruído, ela tende a desaparecer, mas não instantaneamente. Haveria, assim, um espaço de tempo entre a destruição do hábitat e a extinção da espécie. Segundo ele, se a primeira alternativa estivesse correta, haveria muito menos registros de espécies que foram extintas ou estão ameaçadas de extinção entre aves exclusivas da Mata Atlântica. Mas isso não é verdade, pois cientistas acreditam que quatro espécies estejam completamente extintas (mutum-do-nordeste, saíra apunhalada, tietê-de-coroa, e entufado-grande) e pelo menos outras 60 estejam ameaçadas de extinção no curto prazo. A segunda alternativa também não é difícil de refutar, segundo o pesquisador. "O caso de uma espécie só registrada no século passado, o tietê-de-coroa (Calyptura cristata), sugere que espécies podem ter sido perdidas antes de ser registradas", disse Balmford. Mas, diz ele, se esses casos fossem comuns, o número de espécies ameaçadas também seria muito menor, porque a maioria seria extinta antes mesmo de poder ser registrada e considerada ameaçada. Para Balmford, é a terceira alternativa que fornece a explicação mais provável para a existência de tantas espécies ameaçadas e tão poucas extintas. "Na prática, encontramos uma uma estreita relação entre as extinções previstas para áreas restritas da mata, bem como para a Mata Atlântica inteira, e os níveis de ameaça observados." Entretanto o número previsto de extinções foi superior ao número já conhecido de espécies ameaçadas de extinção: 88 contra 60. Segundo o estudo, a única explicação é a existência de um espaço de tempo entre a perda do hábitat e o desaparecimento de uma espécie. "Nossas previsões podem dar apoio a iniciativas de conservação. Se isso não foi feito, perderemos muitas espécies de aves", conclui. Texto Anterior: O desbravador do novo estilo Próximo Texto: Estimativa pode ter sido superestimada Índice |
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