São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Estimativa pode ter sido superestimada

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"O número de espécies que podem desaparecer é menor do que o previsto", diz Carlos Peres, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da USP.
Segundo o pesquisador, isso não significa que medidas de proteção não devam ser tomadas, se houver intenção de salvar espécies.
Mas, para Peres, a estimativa prevista pelo estudo se baseou numa idéia "um tanto simplista" conhecida como biogeografia de ilhas.
Segundo a teoria, uma área pode ser considerada como uma ilha, uma espécie de porta semi-aberta que permite, pelo menos em tese, a entrada e a saída de animais. Quanto mais longe a ilha estiver do continente, mais difícil fica para uma espécie conquistá-la, ou sair dela.
Quando uma região é desmatada, formam-se pequenos trechos de mata chamados fragmentos. Pesquisadores especulam que os fragmentos podem ser considerados como ilhas.
Assim, quanto menor o tamanho da ilha, menor o número de locais (hábitats) que poderiam abrigar uma espécie. Quanto maior a distância de um fragmento a outro (de uma ilha ao continente), fica mais difícil para uma espécie migrar de um fragmento ao outro. Conclusão: o desmatamento teria feito com que a Mata Atlântica ficasse como um arquipélago cheio de pequenas ilhas distantes entre si.
Mas, diz Peres, embora a Mata Atlântica tenha sofrido uma redução de cerca de 90% de sua área original, não pode ser considerada um bloco único, uma ilha que teria perdido parte de seus hábitats e que, consequentemente, teria gerado a extinção de espécies.
"A Mata Atlântica pode ser considerada uma complexo de fragmentos com graus de permeabilidade diferentes, que permitem a entrada e saída de espécies num maior ou menor grau", afirma. Em função disso, a estimativa do número de espécies em risco de extinção poderia estar superestimada.
No caso da Mata Atlântica, embora existam hoje apenas fragmentos do que foi a mata original, eles não devem ser desprezados. Segundo Peres, são extremamente importantes e podem conter um número considerável de espécies.
"É o caso da região que compreende, por exemplo, a fazenda Intervales, o Petar, a Juréia, Jacupiranga e Carlos Botelho. Esse trecho é um bloco de vários hábitats que contém cerca de 450 das 663 espécies de aves estimadas."
Segundo ele, o estudo deixou de levar em conta o padrão de fragmentação -se um trecho é, por exemplo, um bloco complexo- e também problemas locais, como a caça exagerada a uma espécie.
(VS)

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